Cronica e arte
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FOTOGRAFO DE RIBEIRÃO PRETO CRIA EXPOSIÇÃO
MULHERES FORTES, ABERTA AO PUBLICO ATÉ O
PRÓXIMO DIA 29. (segunda parte entrevista com Simone
Mota )
Simone Mota mestre
em educação em
Geografia especialista
na área disse que ser
mulher forte, reflete a
importância da
educação para fazer a
nossa transformação.
Na educação como
professora, Simone
Mota sempre foi uma referência e ela sempre quis fazer a
diferença com os alunos.
Simone Mota disse que essa discussão sobre racismo, se
a pessoa é negro ou não, se existe racismo reverso, ou
não ela sempre usa os temas para trabalhar com os mais
jovens.
Segundo Simone a parte mais importante nessa história
é buscar a relação do povo negro, africano que foi
escravizado para criar uma economia (que não reverteu
para o próprio negro) e quanto isso abalou o
comportamento dos negros de hoje, criado com a ideia de
que conformar que certos lugares não é para ele negro,
entrar.
Um comportamento de dizer que preconceito nunca
existiu, que você tem que tolerar a situação, se não
entrar em algum lugar está tudo certo.
Durante a faculdade Simone disse que era a única, antes
no ensino médio eram
em duas.
Simone disse que
como professora
nunca passou por
questão de
preconceito na
estrutura do ensino.
Questionada pelo
Crônica e Arte, se isto
era por sua posição forte, ela disse que também um
pouco, era por causa disso.
Simone disse que essa postura de ser uma mulher forte
Ela não inventou e na sua família várias mulheres foram
assim. Sua mãe trabalhou na USP no meio de
pesquisadores e médicos e tem uma posição muito
respeitada. Assim como as tias também tinha uma
posição imponente que não dá margem para ter racismo e
quando algum racismo apareceu era muito barrado por
causa da postura.
O maior preconceito é o estrutural, em que a pessoa fala
que não existe preconceito no Brasil mas dificulta o
acesso ou mesmo usando uma piada e humor errado para
expressar o preconceito. Existe um humor inteligente,
mas aquele humor que serve para diminuir as pessoas,
causa problema
A última coisa que se pensa que mulher negra é uma
mulher inteligente ela pode ser bonita, pode dançar bem,
mas se vai escrever um livro, existe uma desconfiança,
que ela não teria escrito sozinha, de quê Qual é a
qualidade do livro e etc.
Mesmo Machado de Assis enfrentou barreiras assim,
muitos gostam do texto dele mas não querem acreditar
que ele era negro.
Como a entrevistada citou Machado de Assis o site
Crônica e Arte citou o livro de Aluísio Azevedo “O Cortiço”,
que em nossa literatura traz um retrato nu e cru, tanto do
preconceito social como racial e foi perguntado a Simone
se a cena final do livro Bertoleza, personagem que depois
de ter ajudado João Romão tanto e ser enganada por ele,
que a denunciou como escrava fujona, e que ali se vendo
como unicamente uma escrava enganada e deixada as
traças se suicida, com seu sangue se misturando ao de
peixes que limpava.
Ao relembrar a cena da morte de Bertoleza, perguntamos
a entrevistada se o sentimento de uma mulher
desprezada por causa da cor, como no caso do
personagem Bertoleza era o sentimento de muita mulher
negra hoje.
Simone disse que aquela cena mostra exatamente o
sentimento de uma mulher negra, quando é desprezada
por causa de sua posição e sua cor, Já que o suicídio dela
é um sinal de impotência de toda uma luta de resistência
que ela tinha travado.
Aquela cena é
totalmente o que a
mulher negra sente
hoje em dia quando vê
a impotência de sua
luta e não tem mais
para onde ir.
Segundo Simone o
caminho para estar em
pé de igualdade é a educação e cita seu próprio exemplo,
com o mestrado que fez e a deixou em Pé de igualdade
com qualquer pessoa, no mercado de trabalho.
Segundo Simone, ainda se questiona se tem lugar que
não era para o negro estar. Por mais que a mulher negra
faça muita coisa, nossa sociedade é uma sociedade ainda
patriarcal, machista e branca. O que são características
do privilégio como no romance “O Cortiço”.
Muitas vezes se vê a mulher forte como aquela mulher
negra, que não estudou, teve 5 ou 6 filhos que educou e
etc., Simone, disse que não está desmerecendo isso, mas
ninguém vê a mulher forte que estudou e passou pela
educação para mudar de vida.
E é através da Educação o caminho para esta mudança,
disse Simone.
No preconceito estrutural a pessoa age sem perceber,
Não é questão só de cota, A cota importante em
determinado momento mas depois o esforço é de cada
um.
Muitas vezes se diz que a existência da cota é um
preconceito, mas ela serve para demonstrar que existe
uma defasagem em racial em uma sociedade, disse
Simone.
A cota segundo Simone, ajuda porque traz uma
perspectiva para o jovem negro, de ingressar pela cota
em alguma colocação, estudo etc., o resto é com ele. O
lado negativo disse Simone, é que a pessoa pode começar
acreditar que com a cota tudo está resolvido, sendo que,
se não houver um esforço pessoal, sem embasamento ela
não vai ficar na faculdade.
Perguntado para Simone o que ela achava do
oportunismo da esquerda de hoje de defender bandeiras
de minorias, Simone disse que a defesa dessas Bandeiras
quando é oportunismo não deve ser levado a sério. Claro,
frisou Simone que a política deve ser uma ferramenta
para defesa de minorias e que a política deve criar
espaços e trabalhos que beneficiem essas minorias sem
uso oportunista da questão.
Se você trabalhar só com a questão de minorias você
acaba não conseguindo atender ao todo, disse Simone,
então atendendo as minorias, de maneira correta você
cria um sistema que acaba funcionando evitando as
diferenças entre as pessoas e as minorias.
Segundo Simone todo governo tem que ter um olhar
atento a essas questões, para criar uma igualdade,
diminuir essas diferenças
A importância dessa mostra é demonstrar a conquista da
mulher negra na cidade de Ribeirão Preto, que muitas
vezes são vistas, somente em trabalhos subalternos
Quando se traz a luz mulheres que apesar de toda
dificuldade conseguiram estar em lugares que socialmente
falando, era difícil para mulher negra, é uma grande
vitória.
É um exemplo de uma conquista
Muita gente em Ribeirão Preto não sabe que tem juíza
Negra, dentista Negra, e aí nisso reside a importância
desta exposição.
O site Crônica e Arte
colocou a questão da
criação do crime de
injúria racial que é
um crime que
diminui, a punição
para quem comete
um ofensa racial
ficando como racismo
a ofensa física, com
punição mais leve para a injuria (O racismo seria tirar
alguém que é negro de um local, ou agredi-lo fisicamente
por causa da cor da pele, por exemplo) e a injuria seria
chama-lo de negro. Na injuria, o caso se resolve com um
acordo processual e pagamento de multa ou cestas
básicas.
Colocado essa questão para Simone, ela disse que vê
esse abrandamento como negativo. Simone disse que o
direito já é um segmento que dá para fazer do inocente
culpado e culpado inocente e, quando se cria essa
possibilidade de maior interpretação, se você encontrar
um juiz que é mais firme vai enquadrar como racismo,
preconceito, ao contrário, se for um juiz que às vezes tem
uma visão mais branda, ou está inserido no preconceito
estrutural, vai julgar a questão como injuria um fato que
é grave.
Assim nesta exposição a ideia deste novo olhar desperta a
conscientização desta posição que a mulher negra
também atingiu.