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Cronica e arte

CRONICA E ARTE  CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email cronicaearte@cronicaearte.com. br Rua São João 869,  14882-010 Jaboticabal SP
Em menos de vinte e quatro horas... Em menos de vinte e quatro horas, dois colegas, separadamente, disseram algo sobre eu acabar sozinho no futuro. “Desse jeito, você vai acabar sozinho”, uma colega normalmente muito agitada, dela eu recordo cada palavra, fácil. Eu não respondia. Não me importo de ficar sozinho. De ficar sempre sozinho. Ela não acreditaria, tenho certeza. Há algo em mim que não me faz sofrer com isso. Lembrei-me num relance do que lera certa vez sobre os guerreiros nórdicos: que eles eram audaciosos e não se importavam de sofrer. É claro que não sou audacioso – e não posso me comparar a nenhum desses bravos entusiasmados. Mas, também, não me importo de sofrer, esse é o ponto. A solidão não me faz, propriamente, sofrer. Caminho pelas ruas observando tudo, inalando o ar úmido da chuva mais recente, e sentindo o peso de meu corpo em movimento, constatando a brutalidade e a sutileza de estar vivo. Não, não sou audacioso, sei disso. Não tenho certos valores apreciados pela maioria. Mas não estou vencido. Tenho planos subversivos para mim mesmo. Ainda que tentasse evitar – o que nunca faço –, as ruas costumavam cercar-me de cenas avulsas, frases ouvidas por acaso, pessoas em movimento protagonizando os dias, todos os dias, antes que viessem outros, outros dias, outro tempo, outras gentes. Poucos dentre nós sabem que o dia é um globo que gira, um cilindro fechado, uma espada que cai, um dente que devora o que, de nossa parte, nunca mais será o mesmo. Descobrir o óbvio é sempre mais difícil. Eu assimilava a diversidade de tipos, suas roupas, cortes de cabelo, as religiões que os acalmavam, que os poupavam de desafiar o infinito e a razão da vida, as vozes e ruídos que produziam sob o sol, tão destoantes do silêncio onde o universo trama sua treva. Gente no meio da vida, a cada um seu passado, idioma e ideologia; a cada um seu futuro, o apodrecimento de tudo em que creem. Posso dizer mais, gosto de discorrer sobre isso. Mas considero muito inquietante e belo o que as palavras não dizem. Perce Polegatto, Vina entre os morcegos http://www.percepolegatto.com.br/2013/07/14/servico-de- rua/
ROMANCES, CONTOS & POESIAS...
Perce Polegatto
Perce Polegatto  Perce Polegatto é autor de 3 romances (“Os últimos dias de agosto”, “A seta de Verena”, “Marcas de gentis predadores”) e 3 livros de contos (“A conspiração dos felizes”, “Lisette Maris em seu endereço de inverno”, “Inconsistência dos retratos”). A metalinguagem, a busca da identidade humana e o questionamento existencial são algumas das principais marcas de seus textos.
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