Cronica e arte
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PELAS RUAS DE RIBEIRÃO NASCE O AMOR...
foto Pinguim Ribeirao Preto (por Mentore Conti)
O tempo passa, mas não
apaga nem o doce nem o
amargo. Nas ruas da cidade
passagens memoráveis...
O ônibus estava cheio, mas
pelas manhãs de Ribeirão
Preto é difícil uma manhã
que não se pegue um ônibus
lotado, cheio de
trabalhadores que deixam
seus lares para a conquista
de mais um dia. Porém, naquela manhã, os olhos de Maísa se
encontraram com um par de olhos verdes claros, tão belos que
fizeram a moça baixar os olhos...
O homem a olhava fixamente fazendo a moça desviar o olhar e
quando sem querer esbarrava novamente naquele que insistia em
encará-la, mas desviar os olhos fazia parte da natureza, que em um
gesto abusado encheu-se de orgulho e virou a face...
Alguém desceu e a moça sentou-se. Pensativa encostou a cabeça na
janela, quando ouviu uma voz:
– Como vai Maísa?
A moça deparou-se novamente com os olhos claros e neles viajou...
O passado voltou como se nunca tivesse se ausentado...
– Chora morena, morena chora, chora morena que amanhã eu vou
embora!
– Desce daí moleque, gritava a irmã para o garoto que trouxera para
passar uns dias em sua casa, pois o menino, para paquerar uma
garota, entrara em um terreno baldio da Nabuco de Araujo e subira
em um muro.
O motivo daquela cantoria era Maísa uma morena, quase da idade
do garoto, olhos de jambo, que enfeitiçada pelo menino ouvia o
cantarolar toda envaidecida. A menina morava em uma casa
simples, na Vila Virgínia, precisamente na João Guião, mas a família
acabara por alugar dois cômodos que tinha nos fundos para ajudar
nas despesas, afinal criar cinco filhos não era fácil. Vira Luís
Henrique poucas vezes após aquele encontro. O garoto tomou outro
rumo, e a última vez que Maísa ouvira falar daquele menino é que
estava envolvido em um caminho difícil de volta, já nem sabia se
estava vivo... Mas a voz e a música a acompanharam durante todo
seu desenvolvimento...
Luís Henrique foi o primeiro de muitos...
Havia naquela noite algo mágico, ele era um dos garotos mais
bonitos da discoteca, chamava-se Luiz e a acompanhava até em casa.
Haviam parado para tomar sorvete na sorveteria do Geraldo, bem
ali na São Sebastião com a Barão do Amazonas, depois se
prontificara para levá-la, contudo ela não deixara que ele a
acompanhasse até a porta de casa.
– Você pode me deixar na Paulo de Frontin com Nabuco de Araujo
que tá bom, disse a menina, pois tinha medo da mãe ficar brava,
pois já era meia noite e dona Carmem ia ficar zangada...
Ele a beijou docemente e se foi. Maísa ainda se recordava daquele
beijo doce, daquele rosto moreno que a acompanharia para sempre.
Ele nunca teve importância na vida dela, porém aquela noite
caminhando pelas ruas da Vila Virgínia ficaria com ela... A mãe
ficara brava, mas o rapaz mais ainda, ao descobrir que ficara na rua
com uma menina de quinze anos após a meia noite... Contudo ela
não ligava... caminhar pela noite, pelas ruas do centro até em casa
fora divino. Chamava-se Luiz e foi motivo de desavença com a irmã,
pois esta fora apaixonada por ele.
Mas Maísa não se prendia a ninguém... Queria algo mais...
_Maísa, Maísa!
A moça acordou do devaneio quando avistou ao longe Rita, a amiga
que viera encontrá-la naquela tarde de sábado.
Rita a convidou para ir à prainha de Miguelópolis com uma excursão
e ela ficou de falar com a mãe...
Assim conheceu Luís Paulo, um olhar diferente, zombador,
contrário a tudo o que ela queria... mas o moço levou-lhe o coração...
ela tinha apenas quinze anos, trabalhava, era independente e tinha
namorado...
Terminar o namoro fora difícil, mas estava apaixonada... Era uma
época em que pedir em namoro era difícil, mas era o correto e o
rapaz falou com seus pais e assim o novo namoro teve início...
Paulo era diferente, fazia loucuras e muitas vezes corriam pela chuva
e o rapaz gritava em plena Pio XII o quanto a amava... a levava para
tomar sorvete...
Maísa adorava caminhar, ir ao cinema, coisas que o dia a dia não lhe
permitia... Havia acabado o ginásio e naquele ano não pensava em
estudar. A lembrança de dona Ana, diretora do SESI 1345 era fresca,
a diretora a aconselhara a estudar no Colégio Otoniel Mota, mas
Maísa nem sabia como funcionava aquela escola... Naquele ano
apenas trabalharia para ajudar a família... Fazer compras no
Supermercado Durão era uma das coisas que mais gostava... Sim a
família Durão ficara em sua memória!
Aos domingos passava o dia com o namorado e muitas vezes ele a
levava ao Bosque Municipal Fábio Barreto e ali passavam horas.
Maísa contava-lhe que adorava ir ao Jardim Japonês avistar aquela
parte da Cava do Bosque, ali se sentia em paz... Lembrava-se quando
os pais a levavam com os irmãos para fazerem piquenique, bem ali
naquela parte do bosque...
Quando não, Paulo a
levava ao Campus da
USP, para caminhar após
visitarem o Museu do
Café... a moça amava
aqueles passeios, pois
havia ali uma quietude
que lhe preenchia a
alma...
O rapaz lhe fazia bem e
conseguira algo que
ninguém havia
conseguido, prendê-la por tantos meses... mas foi naquele mês de
junho que tudo se rompeu, a corda não tinha nós tão firmes... e em
uma brincadeira, em uma festa junina, ouviu-se um tapa na face de
alguém... Maísa saíra pelas ruas do Ipiranga chorando...Paulo a
alcançou na Dom Pedro I e entregou-lhe a luva que caíra de suas
mãos. A moça sentira-se ofendida por uma brincadeira e havia
desferido uma bofetada no rosto do rapaz... a jovem voltou para casa
chorando... Mais tarde o rapaz bateu em sua janela e entregou-lhe a
aliança...
Não havia sido a brincadeira que os separara, mas o orgulho perante
as pessoas...
Não houve outro Luiz no caminho da jovem... frequentara a casa do
rapaz por um bom tempo como amiga, mas o destino realmente os
separou... Maísa foi embora e retornou anos depois...descobriu que
amava Ribeirão Preto, mais que ela mesma e que suas raízes
estavam fincadas ali...os anos fora mudara as coisas e ela teve que
acostumar-se com os trólebus...era a modernidade chegando. Já não
morava na Vila Virgínia, mas as raízes, as lembranças ainda estavam
lá... Os pais faleceram, mas a casa ainda permanecia de pé. Os
irmãos se encontravam sempre. A saudade permanecia...
Formou-se professora e agora trinta anos depois em uma manhã
qualquer, em um ônibus, encontrava novamente aquele rapaz, não
mais um jovem, mas um homem, porém com o mesmo jeito
zombador... nos olhos a identidade que nenhum tempo pode
apagar...
– Paulo que surpresa!
Não mais Luís, apenas Paulo...
Pelas ruas da cidade laços e deslaços, pelas ruas de Ribeirão Preto
uma sucessão de histórias...
Maris Ester Aparecido de Souza:
Atual presidente da C.P.E.R.P. (Casa do Poeta e do
Escritor de Ribeirão Preto), membro fundador da U.E.I.
(União dos Escritores Independentes), Membro da
ALARP ( Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto),
autora do Livro “Nua para o Criador...Vestida para a
Humanidade” (Ed. Paulista) membro da OVJ (Ordem dos
Velhos Jornalistas), da U.B.E (União Brasileira de
Escritores). Professora de Língua Portuguesa da E.E.
Cordélia Ribeiro Ragozo (Bonfim Paulista). (clique
aaqui é leia mais sobre Maris Ester A. Souza)
Maris Ester A. Souza
foto por Rodolfo Tiengo
foto:
praça C Gomes
Rib Preto
por Mentore
Conti
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