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Cronica e arte

CRONICA E ARTE  CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email cronicaearte@cronicaearte.com. br Rua São João 869,  14882-010 Jaboticabal SP
 A HISTÓRIA DE MINHA MÃE Quando passo pelo corredor, você está ali me sorrindo, tem certeza que está fazendo o mesmo lá no céu, onde se encontra agora. Para um instante paro, quero retribuir a sua saudação, também com o mesmo sorriso. Os seus cabelos brancos curtinhos, encaracolados, os olhos verdes. Que ficaram pequenos, mas com aquele brilho especial que tudo fala. O rosto com as marcas do tempo, mas com aquela pele invejável de tão lisa, rosada e macia, até os lábios parecem pintados, para quem não sabe que você nunca usou batom. Este é seu retrato no meio de um buquê de rosas brancas, lembrança da festa do seu aniversário de noventa anos. Assim na minha memória, as lembranças passam como um belo filme colorido. É belo e gratificante ter esta oportunidade de falar de você, mãe querida, me permita de conter um pouco de sua história. Mulher forte, até no gênio, com voz firme e sotaque alemão, com a letra “R” bem puxada, de estrangeira, mulher linda de postura elegante. Qualquer roupa podia ser simples, caia bem em você. Até na idade avançada, você caminhava com uma bengalinha para fazer charme, mais que para se segurar. Mulher admirada pelas belas virtudes, querida, amiga, prestativa e solicita, caridosa e atenciosa com todos e sempre alegre. Amava a justiça e não hesitava um segundo para chamar atenção, quando algo estava errado. Muitas vezes julgamos esta sua atitude intransigente, mas com bondade infinita, humilde, sabia pedir desculpas para qualquer desentendimento. Para todos que tiveram a sorte de cruzar o seu caminho, você deixou o exemplo de uma generosidade sem limites, às vezes exagerada, mas tinha um grande coração. Educada desde os três anos em um colégio Franciscano na Alemanha, você trazia as marcas que durou dezoito longos anos, longe do carinho dos pais que visitavam você de vez em quando. Aprendeu assim todas as artes, das mais humildes aos mais finos bordados, não tinha trabalho que você não soubesse fazer, além de ter uma caligrafia impecável, dominava um alemão perfeito. Enfrentava qualquer desafio com a maior facilidade e coragem inigualável Na época da segunda guerra mundial foi a prova maior, com três filhos pequenos; o pai ganhava pouco dividindo o trabalho na fabrica de tecidos e de jardineiro, onde vocês eram caseiros. Sem medir sacrifícios, você ajudava, além de cuidar da casa e da horta, trabalhando como domestica. Nunca faltou comida na mesa: era simples e gostosa, com tempero de amor de mãe, podia ser polenta, ou batatas, macarrão preparado com suas mãos laboriosas. A casa era pequena, longe do povoado, com caminho de terra batida. O inverno era duro na época da neve, o fogão era a lenha, a cozinha era quente, e o quarto ficava gelado. Tudo no devido lugar, sempre em ordem e limpo; a minha infância foi feliz, correndo naquele grande jardim, que na primavera era uma festa de flores, e no verão tinha frutas doces: cerejas, morangos e framboesas para comer no pé. Você mãe, me educou cedo para o trabalho doméstico, me dava pequenas tarefas, colocava um banquinho para que eu alcançasse a pia para lavar a louça e para passar miudezas. Adorava ajudá-la, assim me elogiava, me fazia sentir importante dizendo:  -  Nunca fale não sei fazer, tente até conseguir, ninguém nasce professor! Mãe querida, quantos ditados fazem parte da minha vida, dos seus ensinamentos carinhosos e severos. O hobby da costura, dos consertos, do desmanchar e, fazer de novo com a maior facilidade, eu aprendi com você. Quando me sento na frente da maquina de costura, com reverência, me lembro de quantos trabalhos fizemos juntas; sempre alegre, cantando, enfeitando nosso dia, eu admirava muito, queria ser igual a você. Apesar de ser severa, não me lembro de ter apanhado, a não ser uma única vez, foi um tapa na boca, mais o menos forte; não me lembro o motivo, mas suas mãos eram fortes com as palmas largas de quem fez muitos trabalhos pesados. Você se orgulhava ao contar da sua vida na volta da Alemanha, quando seu pai foi buscá-la  por causa da guerra, você administrava e ajudava na pedreira até usando pá para carregar pedras nas carretas, na marcenaria também você ajudava na fabricação de caixão de defuntos; aprendeu também fazer colchões de palha para os soldado que paravam na alfândega da estação de trem. O lugarejo era pequeno e pobre, você falava só a língua alemã com os seus pais e os irmãos tinham inveja porque não entendiam. Aos poucos aprendeu a falar o italiano. A vida mais tarde levou-a para cidade grande, onde as amigas já estavam trabalhando. Você parou na casa de um famoso professor da Universidade de Milão, especialista em radiologia. A vida de novo marcou o seu caminho, pois levou esta família a ter uma segunda casa, em um lugar mais afastado dos bombardeiros, e, seguiu com eles cuidando dos filhos, ensinando a língua alemã, e cuidando da avó deles, idosa que sofria de insônia. O destino tinha traçado o caminho, foi ali que você conheceu meu pai, ficando como caseiros por mais de quarenta anos. As dificuldades foram enormes, você as superou com firmeza e muita coragem, as provações da convivência com uma pessoa como meu pai, que não tinha a sua cultura, apesar de ser muito trabalhador, mas ele gostava de beber vinho em excesso. Com muita inteligência você resolvia tudo, e com paciência agüentou firme, com aquela garra vencedora, trabalhando constantemente para dar uma boa educação aos filhos. Você cumpriu a sua missão de educadora, tenho certeza com a melhor psicologia, aquela da intuição que toda a mãe sábia tem, escutando seu coração. Quanta coisa ainda podia contar, mas... posso dizer só uma palavra para resumir tudo: Obrigada minha querida mãe! Saudade! Lisute* *Este texto foi publicado da Editora Casa do Novo Autor, da cidade de São Paulo no ano 2002. Foi escolhido pela Antologia Literária “Escrevendo Mulheres” para homenagear as mulheres. Fiquei muito orgulhosa e para ter homenageado a minha querida mãe, assinando meu trabalho com o nome com o qual ela costumava me chamar: “Lisute”!
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Elisa Alderani
Biografia Elisa Alderani  Nascida na Itália, Elisa Alderani mudou-se em 1978 para Ribeirão Preto, onde reside até hoje. Depois de realizada profissionalmente como comerciária, deu asas ao sonho de ser escritora, acalentado desde a infância, quando já apresentava inclinação para as letras. Em 2008, publicou “FLORES DO MEU JARDIM - FIORI DEL MIO GIARDINO”, edição bilíngue e com fins solidários, obra premiada na Feira do Livro de Ribeirão Preto de 2009. Integra a Casa do Poeta, a UEI (União dos Escritores Independentes), a UBE (União Brasileira Escritores) e a UBT (União Brasileira de trovadores).Colecionou medalhas e troféu também como assídua travadora.  Poetisa atuante tem participação em mais de 50 antologias e coleciona importantes prêmios literários.
fotos e imagens: Site Pexels Anna Shuets e Cristian Rojas, internet e facebook da poetisa
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