Cronica e arte
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"geração Kichute" *
Analisando o
comportamento da atual
geração, comparada com
a nossa "geração Kichute",
verificamos o quanto a
sociedade se modificou e
se tornou mais exigente,
tanto que o atos cotidianos
daquela época podem
hoje ser considerados
crimes graves.
Tomando como exemplo uma tarde
ensolarada, após uma noite festiva
de natal, reunimos alguns amigos
sem o uso de celulares e montados
em nossas pequenas bicicletas e
até uma mobilete,
fomos fazer uso de
nossos "brinquedos"
recebidos na noite anterior.
Em uma plantação de sorgo próxima havia uma verdadeira
infestação de rolinhas, voando como enxames por sobre a
plantação e para lá nos dirigimos munidos de nossas
espingardinhas de pressão, além da recém recebida, por
meu avô coronel do exército, uma espingarda 36, pois eu já
havia completado meus 15 anos e poderia, sob a
concepção da época, ter uma arma de baixo calibre para
caçar.
Já com algumas poucas aves em mãos fomos
surpreendidos com a "baratinha", apelido dado ao
fusquinha da polícia local.
Como os policiais nos conheciam por também estarmos
sempre nas ruas, fomos questionados com aquela
pergunta que parecia óbvia demais, mas deveria fazer
parte da técnica de abordagem da época:
"O que vocês estão fazendo aqui?"
Como nos parecia natural estar ali dirigindo sem
habilitação, armados e abatendo animais silvestres,
mostramos naturalmente as aves abatidas como resposta
de quem não estava fazendo nada de mais.
O policial bonzinho (já
existia essa técnica)
pegou a espingarda 36
de minhas mãos para se
certificar de que se se
tratava realmente de
apenas uma 36, "arma
de fogo" inofensiva e de
uso comum aos meninos
daquela época pelo seu
baixo calibre.
Terminaram perguntando o que iríamos fazer com as aves
silvestres abatidas e a resposta já estava na ponta da
língua, uma fritada.
Por sorte não deram
importância à mobilete,
talvez porque
acreditávamos que se
não fossemos flagrados
dirigindo eles não poderiam apreende-la.
Recomendaram antes de se retirar para "não fazer merda",
conselho bastante subjetivo, mas que englobava
perfeitamente tudo o que não poderíamos fazer em toda
sua amplitude.
Em tempos atuais, a turma que hoje compõe advogados,
empresários, professores e até um juiz de direito, teria
sofrido processos terríveis e seriam estigmatizados, sendo
que provavelmente nunca alcançassem as contribuições
profissionais e sociais que dão hoje.
Não se trata de uma crítica à legislação atual, nem mesmo
um absurdo incentivo à prática de abate de animais
silvestres, dirigir sem habilitação, ou muito menos o uso de
armas de fogo por menores de idade, mas uma visão sobre
o quanto nossa concepção sobre os fatos mudam, mais
que as roupas ou costumes.
O que dirão nossos descendentes sobre nossos atos
cotidianos de hoje?
Luiz Antonio Garcia
Junior
fotos coleção do autor
* Kichute era marca de
um tênis muito usado
na década entre 1980 e
1990, por crianças ou
adolescentes (nota do
editor)
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