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Cronica e arte

CRONICA E ARTE  CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email cronicaearte@cronicaearte.com. br Rua São João 869,  14882-010 Jaboticabal SP
"geração Kichute" * Analisando o comportamento da atual geração, comparada com a nossa "geração Kichute", verificamos o quanto a sociedade se modificou e se tornou mais exigente, tanto que o atos cotidianos daquela época podem hoje ser considerados crimes graves. Tomando como exemplo uma tarde ensolarada, após uma noite festiva de natal, reunimos alguns amigos sem o uso de celulares e montados em nossas pequenas bicicletas e até uma mobilete, fomos fazer uso de nossos "brinquedos" recebidos na noite anterior. Em uma plantação de sorgo próxima havia uma verdadeira infestação de rolinhas, voando como enxames por sobre a plantação e para lá nos dirigimos munidos de nossas espingardinhas de pressão, além da recém recebida, por meu avô coronel do exército, uma espingarda 36, pois eu já havia completado meus 15 anos e poderia, sob a concepção da época, ter uma arma de baixo calibre para caçar. Já com algumas poucas aves em mãos fomos surpreendidos com a "baratinha", apelido dado ao fusquinha da polícia local. Como os policiais nos conheciam por também estarmos sempre nas ruas, fomos questionados com aquela pergunta que parecia óbvia demais, mas deveria fazer parte da técnica de abordagem da época: "O que vocês estão fazendo aqui?" Como nos parecia natural estar ali dirigindo sem habilitação, armados e abatendo animais silvestres, mostramos naturalmente as aves abatidas como resposta de quem não estava fazendo nada de mais. O policial bonzinho (já existia essa técnica) pegou a espingarda 36 de minhas mãos para se certificar de que se se tratava realmente de apenas uma 36, "arma de fogo" inofensiva e de uso comum aos meninos daquela época pelo seu baixo calibre. Terminaram perguntando o que iríamos fazer com as aves silvestres abatidas e a resposta já estava na ponta da língua, uma fritada. Por sorte não deram importância à mobilete, talvez porque acreditávamos que se não fossemos flagrados dirigindo eles não poderiam apreende-la. Recomendaram antes de se retirar para "não fazer merda", conselho bastante subjetivo, mas que englobava perfeitamente tudo o que não poderíamos fazer em toda sua amplitude. Em tempos atuais, a turma que hoje compõe advogados, empresários, professores e até um juiz de direito, teria sofrido processos terríveis e seriam estigmatizados, sendo que provavelmente nunca alcançassem as contribuições profissionais e sociais que dão hoje. Não se trata de uma crítica à legislação atual, nem mesmo um absurdo incentivo à prática de abate de animais silvestres, dirigir sem habilitação, ou muito menos o uso de armas de fogo por menores de idade, mas uma visão sobre o quanto nossa concepção sobre os fatos mudam, mais que as roupas ou costumes. O que dirão nossos descendentes sobre nossos atos cotidianos de hoje?
CRÔNICAS, ROMANCES, CONTOS & POESIAS...
Luiz Antonio Garcia Junior
Luiz Antônio Garcia Júnior. Advogado, Carioca nascença e Jaboticabalense de coração.
fotos coleção do autor
* Kichute era marca de um tênis muito usado  na década entre 1980 e 1990, por  crianças ou adolescentes (nota do editor)
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