Cronica e arte
CRONICA E ARTE CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email cronicaearte@cronicaearte.com.
br Rua São João 869, 14882-010 Jaboticabal SP
Os professores
repreendiam-
me...
Os professores repreendiam-
me, estranhavam que tanto
eu pressionasse o lápis
sobre o papel. Mais tarde,
a caneta. Nunca soube escrever
de outra maneira, e não me desenvolvi. O
adolescente não podia evitar que os
tipos
datilografados perfurassem o papel –
e
os acentos, aspas, vírgulas e
interrogações remetiam ao braile,
não sem alguma
alusão
oportuna, minhas
dúvidas e
escuridão. Não
me ocorre, mesmo
hoje, a razão
pela qual
necessito firmar minha
escrita, meu código de forças, minha
ativa mão, meus dínamos em meio a um mundo
insólito e perpassado pela indiferença, por mais que eu avance
ferindo os papéis. O texto é meu objeto, meu homem de argila. E
nenhum papel foi jamais suficiente para mim.
O registro, resto de uma verdade que me atraísse, não era senão a
sobra, a perda. No último degrau do pátio, caderno sobre os
joelhos, sozinho ante o muro em cuja base os brotos de hera buscam
firmar-se, o menino intui que as palavras se transformam, que se
modificam conforme os olhos de quem as considera, que não podem
ser transcritas. Que viajam. E se deslocam entre os dias e os
gestos, e se dissolvem para germinar, desaparecem como os antigos
idiomas e os povos reciclados pela terra. Não existe o ponto-final,
nós o inventamos. Para que a frase se detenha. E o texto não se
confunda com o universo ou com a sombra.
Perce Polegatto, Lisette Maris em seu endereço de inverno:
http://www.percepolegatto.com.br/2014/05/17/braile-contra-a-luz/
“O texto é meu objeto, meu
homem de argila. E nenhum
papel foi jamais suficiente para
mim”...
Perce Polegatto