CRONICA E ARTE CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email
cronicaearte@cronicaearte.com.br Rua São João, 869, 14882-010 Jaboticabal SP
O ROMANCE 'TIL' DE JOSÉ DE ALENCAR E O PROJETO
DE FORMAÇÃO DA NAÇÃO BRASILEIRA
Artigo de Mentore Conti Mtb 0080415 SP fotos Domínio
Público e Agencia Brasil, no final o PDF do romance TIL
Jaboticabal, 4 de outubro de 2025
O romance 'Til',
publicado por José de
Alencar em 1872,
integra o projeto do
autor de criar uma
literatura nacional que
desse forma à
identidade cultural
brasileira. Ambientada
no interior paulista, a
obra retrata costumes,
tensões sociais e
relações de poder em
um Brasil marcado pela
escravidão e pelas
transformações políticas do período.
Escrito logo após a promulgação da Lei do Ventre Livre
(1871), o livro capta o clima de debates sobre o futuro da
sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que se insere no
mosaico literário de Alencar, formado por romances
indianistas, urbanos e regionais, todos voltados para a
invenção de uma brasilidade.
José de Alencar ocupa lugar central na literatura brasileira do
século XIX, não apenas como romancista, mas como um
intelectual comprometido com o projeto de construção
simbólica da nação. Seu romance 'Til', publicado em 1872,
insere-se nesse esforço mais amplo de criar uma literatura
que pudesse, de alguma maneira, consolidar uma identidade
cultural própria, capaz de dialogar com o passado colonial e
escravista, ao mesmo tempo em que apontava para uma
modernidade nacional.
Ao escrever 'Til', Alencar volta-se para o interior paulista,
descrevendo fazendas, costumes, tensões sociais e relações
de poder que marcam o Brasil rural da época. O romance é
permeado por elementos que vão além do enredo: ele tenta
capturar os traços característicos da vida brasileira, em
especial o convívio entre diferentes camadas sociais e
raciais. Assim, o texto não se reduz a uma história
sentimental ou melodramática, mas se apresenta como uma
espécie de retrato da sociedade em transformação.
O projeto literário de Alencar sempre esteve ligado à ideia de
fundar uma literatura genuinamente nacional. Desde os
romances indianistas, como 'Iracema' e 'Ubirajara', passando
pelos urbanos, como 'Senhora', até os regionalistas, como
'Til', ele procurava desenhar um mosaico do Brasil. Cada
obra representava um pedaço desse grande painel: o índio
como herói fundador, a vida urbana burguesa em ascensão,
os sertões e interiores como repositórios de costumes
autênticos. Nesse sentido, 'Til' é parte de um esforço mais
amplo para desenhar o perfil de uma nação em formação.
No contexto histórico, é importante lembrar que Alencar
viveu num Brasil marcado pela monarquia e por intensos
debates sobre a escravidão. Em 1871, ano anterior à
publicação de 'Til', foi sancionada a Lei do Ventre Livre, que
libertava os filhos de mulheres escravizadas nascidos a
partir daquela data. Esse ambiente de discussões políticas e
sociais atravessa o romance, mesmo quando não aparece
de forma explícita. As figuras de escravizados e de
personagens subalternos em 'Til' não são protagonistas, mas
sua presença reforça as tensões estruturais que Alencar,
mesmo conservador, não podia ignorar.
Há também, em 'Til', a busca de criar um espaço simbólico
em que as diferentes vozes da nação pudessem ser vistas,
ainda que de forma hierarquizada. A idealização do campo, o
retrato dos vínculos afetivos e a exaltação de um Brasil
profundo fazem parte da tentativa de dar densidade cultural
ao país. Nesse ponto, a obra dialoga com o romantismo
europeu, mas busca adaptar esse modelo à realidade
nacional.
Se compararmos 'Til' com o projeto alencariano de formação
da nação, percebemos que ele não é apenas mais um
romance regional: é uma peça de um quebra-cabeça
literário, político e cultural. Alencar, como deputado e homem
público, defendia uma visão conservadora em vários
aspectos, especialmente em relação à escravidão, mas,
como escritor, tinha a ambição de legar uma literatura que
fosse lida como expressão da brasilidade. Nesse sentido,
'Til' ocupa um lugar singular: nele estão condensados o olhar
do autor sobre o campo, as contradições sociais do período
e a tentativa de formular uma identidade nacional.
Portanto, 'Til' é mais do que um romance rural do século XIX.
É parte de um projeto literário e político que buscava definir
o Brasil para os próprios brasileiros. Através dele, Alencar
não apenas contava uma história, mas contribuía para a
invenção de um imaginário
nacional, em uma época em
que o país buscava se afirmar
culturalmente e lidar com as
contradições de sua estrutura
social.
Porque este título:
O romance Til, de José de
Alencar, recebeu esse nome
porque “Til” é o apelido
carinhoso da protagonista, Berta — uma jovem órfã que vive
no interior paulista e simboliza, de certo modo, a pureza, a
força e o instinto moral do povo simples do campo brasileiro.
Mas há também camadas simbólicas nesse título, que
ajudam a entender o projeto literário e nacionalista de
Alencar:
O apelido e o caráter popular
O nome “Til” vem da forma como as pessoas humildes da
fazenda chamavam Berta. É uma contração afetiva de
“Bertilha” ou “Berta”, e esse uso de diminutivos e apelidos
populares mostra a intenção de Alencar de retratar a fala e
os costumes do povo rural. Assim, o título não é apenas um
nome: ele representa a linguagem brasileira, o jeito de falar
do interior, o modo como o povo nomeia com ternura e
simplicidade.
O símbolo da personagem:
Berta (“Til”) é o eixo moral da narrativa. Ela representa a
virtude natural, a bondade instintiva e o ideal de mulher e de
Brasil que Alencar queria exaltar — uma figura ligada à terra,
à natureza e à pureza. Dar o nome do livro a ela é destacar
a força simbólica do feminino e da vida interiorana como
elementos fundadores da identidade nacional.
. O sentido estético e nacionalista
Quando Alencar escreve Til (1872), ele já tinha publicado
obras indianistas e urbanas (O Guarani, Lucíola, Senhora).
Com Til, ele volta-se para o Brasil rural, mostrando que a
nação também se constrói no interior, com o povo simples e
suas tradições. O título curto e afetivo reflete esse projeto de
“brasilidade”: um nome pequeno, coloquial, fácil, que soa
verdadeiramente brasileiro — sem influência estrangeira.
Um toque sentimental e simbólico
Há também quem veja no nome Til um traço de musicalidade
e leveza — o til (~) é um acento que “oscila” sobre as letras,
o que poderia metaforicamente remeter à delicadeza, à
oscilação entre alegria e tristeza que marca o tom do
romance.
Para facilitar a leitura use o celulr na hotizontal
JOSÉ DE ALENCAR
clique na foto ao lado para
abrir o romance em PDF