Cronica e arte
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DIA 21 DE ABRIL: A INCONFIDÊNCIA MINEIRA E A NOSSA
CIDADANIA
Mentore Conti Mtb 0080415 SP // foto internet domínio
público
Jaboticabal, 18 de Abril de2022
A inconfidência mineira
foi um movimento
que teve por objetivo
fazer com que o Brasil
se separasse de
Portugal evitando com
isso a exploração da
colônia no modo como
vinha sendo feito até
então. Depois da
descoberta de ouro na
colônia brasileira a
Metrópole passou a
cobrar imposto com
uma taxa de 20% do minério extraído o que correspondia a
um quinto do ouro encontrado.
Daí o nome popular de quinto dos infernos.
Esta exploração desagradou os mineradores como também
a camada mais rica das Minas Gerais. Como podemos
observar se viajarmos pelas cidades históricas de Minas, a
exploração do diamante e do ouro trouxe para aquela
região, um apogeu que até então pouco se vira na colônia.
Casas bem construídas, igrejas ornamentadas com
detalhes em ouro e com altares pintados com pó de ouro e
toda uma classe poderosa que agora tinha não apenas o
poder delegado da coroa, mas uma ascensão social,
monetariamente falando.
Com o passar do tempo a situação de imposição dos 20%
do imposto cobrado ficou cada vez mais insuportável foi
então que alguns fidalgos entre eles o procurador das
Minas Gerais, Tomás Antônio Gonzaga e o poeta Cláudio
Manuel da Costa, Padre Rolim, e alguns militares dentre
eles o Alferes Joaquim José Da Silva Xavier, o Tiradentes,
resolveram criar um levante.
Há muito tempo os mineradores procuravam burlar o fisco
e faziam procissões como Santos chamados “Santos do pau
oco” onde, nestes santos, se escondiam ouro para que a
procissão saísse da cidade, até
uma capela de um Vilarejo, ali
se trocasse o santo cheio de
ouro dentro, por uma mesma
imagem vazia, para que a
procissão voltasse concluindo
assim o contrabando do minério
para fora da cidade, sem ter que
passar pelo fisco português,
exercido pela metrópole,
através das casas chamadas,
casas do conto.
Também com a mesma
finalidade fazia-se o
contrabando de ouro em pó alugando-se escravos de Vila
Rica para proprietários fora da localidade de Minas Gerais.
Quando da entrega do escravo o proprietário molhava o
cabelo deste e jogava ouro em pó no cabelo do referido
escravo que ia ser alugado.
Ao chegar na propriedade
onde o escravo ia trabalhar,
lavava-se o cabelo deste e
retirava o ouro em pó.
Para evitar estes e outros
artifícios, sendo que a
sonegação era geral, a
coroa portuguesa já tendo
muitas pessoas que deviam impostos e, sabendo desse
contrabando, mudou o sistema tributário, substituindo o
quinto cobrado por uma cota única fixa de 100 arrobas, isto
em 1788, ou seja a Derrama.
Com o endividamento cada vez maior dos mineradores, e
agora a possibilidade da Derrama, começou a conspiração
para o fim da colonização do Brasil, para com a coroa
portuguesa, isto já no ano de 1789 e com inspirações nos
ideias de Thomas Jefferson da Guerra de Independência
Americana (1776), funcionários graduados da colônia em
Vila Rica, Advogados, padres, militares e entre eles o
Alferes Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, criaram o
que se chamou depois Inconfidência Mineira.
Alguns ideiais dos inconfidentes eram: Proclamar uma
república inspirada nos moldes existentes nos Estados
Unidos; Incentivar a diversificação econômica da capitania
e instalar manufaturas; Formar uma milícia (polícia)
nacional. com a proclamação da república era óbvio que as
dívidas dos inconfidentes com Portugal, seriam extintas, o
que era um dos objetivos da inconfidência.
O governador da época, na capitania de Minas Gerais
Visconde de Barbacena procurou se aliar com o conjurado
Joaquim Silvério dos Reis, prometendo a ele anistia de suas
dívidas se ele contasse os planos da Inconfidência.
Na realidade a inconfidência mesmo não passou de
reuniões com ideias importantes,
de cunho iluminista e com
discussões de como ia ser o futuro
de Vila Rica, a bandeira, os ideais
e praticamente, esqueceram de
comprar armas.
Entre os Inconfidentes além de
Tiradentes podemos citar Tomás
Antônio Gonzaga, Padre Rolim, o
poeta Cláudio Manuel da Costa.
Por falta de planejamento militar,
quando a inconfidência foi
denunciada ao Governador e esse ficou sabendo que o
levante se daria no Dia da Derrama, ele suspende a
Derrama e combate os Inconfidentes.
Todos acabam sendo presos e ao final condenados à
morte.
Tiradentes sempre negou a existência de um movimento
de conspiração, porém, após vários depoimentos que o
incriminavam, na Quarta audiência, no início de 1790,
admitiu não só a existência do movimento, como sua
posição de líder.
A devassa processo feito para apurar os fatos promoveu a
acusação de 34 pessoas, que tiveram suas sentenças
definidas em 19 de abril de 1792, com onze dos acusados,
condenados a morte: Tiradentes, Francisco de Paula Freire
de Andrade, José Álvares Maciel, Luís Vaz de Toledo Piza,
Alvarenga Peixoto, Salvador do Amaral Gurgel, Domingos
Barbosa, Francisco Oliveira Lopes, José Resende da Costa
(pai), José Resende da Costa (filho) e Domingos de Abreu
Vieira.
Desses, apenas Tiradentes foi executado, os demais
tiveram a pena comutada para degredo perpétuo por D.
Maria I. O Alferes foi executado em 21 de abril de 1792 no
Rio de Janeiro, esquartejado, sendo as partes de seu corpo
foram expostas em Minas e na estrada real, que ligava Vila
Rica (Ouro Preto) como advertência contra novas tentativas
de rebelião.
De condenado à morte a Herói nacional e a
função deste feriado
Tiradentes que de início, como dissemos acima, serviu de
exemplo de destino a
quem se insurgisse contra
a metrópole portuguesa,
já na república passou a
ser enaltecido como
exemplo de brasileiro, que
luta por seu país, hoje
patrono das polícias
militares do país..
Infelizmente nestes últimos 30 anos, se têm deixado a
margem, episódios históricos, como este, a expulsão dos
Holandeses, ocorrida séculos antes da Inconfidência, e até
mesmo, tem-se reduzido a importância da Independência
do Brasil, expurgando deste episódio da independência, a
guerra de 3 anos que se seguiu ao Grito do Ipiranga.
Infelizmente o feriado de 21 de Abril, importantíssimo para
a formação de uma cidadania para o brasileiro, está se
degenerando em mais um simples feriado, que se usará
para emendar o final de semana, e correr para a praia.
Para isto novamente virá o famigerado ponto facultativo,
que como dissemos em artigo anterior, serve apenas para o
ócio de parte dos brasileiros.
Que adianta ficar lamentando que existem maus
candidatos, políticos, que o judiciário tem suas mazelas, e
correr para a praia?
Ainda se fosse passear mas tivesse ideia do que
representou esta data, ideia de cidadania, eu ficaria quieto,
mas infelizmente tem se divulgado a ideia que ser cidadão
é estar conectado, que ser cidadão é ter um forno Mícro-
ondas por exemplo.
Ser cidadão é antes de tudo, exercer o direito/dever de
exigir de funcionários, juízes, políticos e demais pessoas a
respeitarem este pais. É o direito de votar, mas em
consequência ao direito de votar exercer o dever de
fiscalizar a política e o funcionamento do Estado.
Ser cidadão é não votar no primeiro político que vê pela
frente, tem que escolher alguém que não roube, não
corrompa a administração pública.
Ser cidadão não é apenas ter direitos, mas deveres com
este país, ou será que vamos ver um país ficar estagnado e
com o nos descrevia frei Vicente de Salvador.
Em 1627 ele afirmou que no pais não existia nenhum
homem republicano, pois nenhum deles cuidava do bem
comum, escrevendo, entre outras coisas o seguinte:
“Os que de lá (Reino de Portugal) vieram, mas ainda mais
os que cá nasceram, uns e outros, usam da terra, não
como senhores, mas como usufrutuários, só para a
desfrutarem e a deixarem destruída.”
O autor acrescenta ainda “Donde nasce também que
nenhum homem nesta terra é repúblico, nem zela ou trata
do bem comum, senão do bem particular”.
Frei Vicente de Salvador ainda complementa no mesmo
capítulo: “Pois o que é fontes, pontes, caminhos e outras
coisas públicas é uma piedade, porque atendo-se um aos
outros nem um as faz, ainda que bebam água suja e se
molhem ao passar os rios ou se orvalhem pelos caminhos,
e tudo isto vem de não tratarem do que há cá de ficar,
senão o que hão de levar para o reino”.
Este texto de 1627 (exemplar nesta editoria “História do
Brasil (1500-1627)” Edições Melhoramentos 4ª edição,
1964- Capitulo II), nos dá a medida do que acontece com
nossa cidadania. Nós pensamos ainda, como aqueles
colonizadores, muitos dos quais degredados, e primeiros
brasileiros, que se comportavam como se a terra aqui não
fosse nada.
Fruto de um processo de construção, mal e porcamente
feito, o Brasil ainda tem muita gente com aquele
pensamento e, feriados como 21 de abril, se bem usado
por professores, seria útil para mudar esta questão.
Infelizmente o que vemos é que muitos professores
também repetem aquele comportamento descrito por Frei
Vicente de Salvador.
Em outras oportunidades ou em forma de texto ou em
vídeo, voltaremos neste assunto sobre a cidadania
brasileira.
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foto1 Tiradentes; foto2 Tiradentes
esquartejado;foto3 Casa do Conto Vila Rica-Ouro
Preto; foto4 Tiradentes; foto 5 Bandeira da
Inconfidencia com o lema do monimento Libertas
quae sera tamen ( Hoje Bandeira de Minas)
* Mentore Conti além de jornalista é advogado e Professor de História e
Geografia