Cronica e arte
CRONICA E ARTE CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email cronicaearte@cronicaearte.com
Rua São João, 869, 14882-010 Jaboticabal SP
Criadora de padrão popular
e de qualidade, Rádio
Nacional completa 80 anos
12/09/2016 18h57
Rio de Janeiro
Paulo Virgílio - Repórter da Rádio Nacional
Em meados dos anos 30 do século passado, o rádio, que
havia chegado
ao Brasil na
década
anterior, pelas
mãos do
educador
Edgard
Roquette Pinto,
passa a
despertar o
interesse dos grandes jornais , a mídia dominante e
quase exclusiva da época. O país vivia a efervescência
política da Era Vargas, que resultaria, pouco depois, na
ditadura do Estado Novo, e nesse contexto, surgem em
1935, na então capital da República, as rádios Jornal do
Brasil, do tradicional matutino pertencente ao conde
Ernesto Pereira Carneiro, e a Rádio Tupi, emissora
pioneira do magnata da imprensa Assis Chateaubriand.
E, no ano seguinte, a Rádio Nacional, empreendimento
do vespertino A Noite, o mais influente da época no Rio
de Janeiro.
Inaugurada em 12 de setembro de 1936, a Rádio
Nacional surgiu como emissora privada, mas acabou
estatizada em 1940, juntamente com o jornal que a
fundou, em crise financeira desde a ousada construção
de sua sede, o Edifício A Noite, primeiro arranha-céu da
América do Sul. E foi a partir daí que criou o padrão
brasileiro de um rádio popular com alta qualidade
técnica e artística, conquistando ouvintes de todo o país
e tornando-se, nos anos 40 e 50, a principal emissora
latino-americana.
A rádio, que comemora hoje (12) seus 80 anos de
existência, foi inovadora em sua época áurea, ao
apresentar uma variada grade de programação, capaz
de atrair vários segmentos da audiência. Programas de
auditório, de humor, radioteatro, de esporte e de
radiojornalismo – no qual o Repórter Esso, lançado em
1941, foi o pioneiro dos informativos das rádios
brasileiras – eram os destaques desse mix.
Nenhuma outra emissora da era da música ao vivo no
rádio chegou a contar, como a Nacional, com três
orquestras, maestros e arranjadores de renome, como
Radamés Gnattalli, e um elenco de músicos e cantores
que incluía nomes como Emilinha Borba, Marlene e
Cauby Peixoto, os mais populares do país nos anos
1940/50.
Matriz de um modelo de programação que nas décadas
seguintes seria copiado pelas emissoras de televisão, a
Nacional consagrou apresentadores como César de
Alencar, Paulo Gracindo, Almirante e Paulo Roberto,
humoristas como Brandão Filho e radioatores como
Mario Lago e Daisy Lúcidi, ainda hoje integrante dos
quadros da emissora.
>> Confira o especial dos 80 anos da Rádio Nacional
Tema de livros e teses de mestrado em comunicação, a
história da emissora também já foi contada em um
musical para o teatro – Rádio Nacional, as ondas que
conquistaram o Brasil - de Fátima Valença, com
supervisão de Bibi Ferreira, e ganhador do Prêmio Shell
de melhor direção musical em 2006. Autora,
juntamente com o radialista Luiz Carlos Saroldi (1931-
2010), do livro Rádio Nacional: o Brasil em sintonia, a
professora Sonia Virginia Moreira, da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj) ressaltou a boa gestão
como um dos fatores do sucesso da emissora, que em
sua época dourada, foi, ao mesmo tempo, pública e
comercial.
“O mais importante não era simplesmente essa dupla
forma de subsistência, mas como esses investimentos
eram traduzidos no âmbito da Nacional, uma rádio que
lançava novas ideias, pessoas e dava oportunidade a
conhecedores da música popular e do teatro
divulgarem seus trabalhos”, destacou. Além de bons
gestores, como o diretor Gilberto de Andrade, a
Nacional se beneficiou na época com a implantação
das antenas de ondas curtas, o que permitiu à
emissora falar para o país inteiro e também para o
mundo.
Auditório da Rádio Nacional nos anos 50
Auditório da Rádio Nacional nos anos 50Acervo/Rádio
Nacional do Rio de Janeiro
Nos anos 1960, quando a comunicação brasileira vivia
a transição entre a era do rádio e o domínio da TV, a
Rádio Nacional sofreu um grande baque, de natureza
política. Comprometida com a defesa da democracia,
nos dias que antecederam o golpe de 1964, a emissora
foi invadida por militares e teve 36 artistas e
jornalistas demitidos.
Foi uma ruptura que gerou um verdadeiro divisor de
águas na história da Rádio Nacional. Com a anistia, em
1979, alguns sobreviventes do expurgo retornaram à
emissora, como o radialista Gerdal dos Santos, ainda
hoje apresentando programas na casa.
Com a criação da Radiobrás, em 1976, a emissora
passou a integrar uma rede de comunicação pública
capitaneada pela Rádio Nacional de Brasília. Essa rede
se amplia, com a criação em 2005 da Empresa Brasil de
Comunicação (EBC), que incorporou a TV Brasil e as
rádios MEC (AM e FM).
Um ano antes, a emissora teve seu famoso auditório
restaurado e reinaugurado com a presença de estrelas
de sua época de ouro, como os cantores Emilinha
Borba, Marlene e Cauby Peixoto, e de autoridades,
entre elas o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A partir daí, voltou a apresentar programas ao vivo,
direto do auditório.
Em 2012, a Rádio Nacional deixou o Edifício A Noite,
seu endereço durante 76 anos, transferindo-se para as
instalações da TV Brasil, na Avenida Gomes Freire, na
Lapa, onde funcionou a antiga TV Educativa, também
na região central do Rio.
O motivo da mudança foi a necessidade de reformas
no prédio, tombado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas as obras até
hoje não aconteceram, e o edifício, projetado pelo
arquiteto francês Joseph Gire em estilo Art-déco e
localizado na agora revitalizada Praça Mauá, será
colocado à venda pela Secretaria do Patrimônio da
União (SPU).
Edição: Jorge Wamburg
continua ao lado