Cronica e arte
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A TIA ALZIRA
Uma crônica de Mentore Conti // foto EBC
Jaboticabal, 16 de dezembro de 2017
Bernadete seguiu em
direção a casa da mãe,
dona Luiza para visitá-la e
lá, entre um café e outro,
acabou lembrando que
sua tia Alzira ia fazer uma
visita e em poucos dias
estaria ali.
E a mãe rapidamente no meio da conversa, quando
ficou sabendo que Alzira ia chegar, já foi falando
rapidamente: ---vem fazer o que aqui, aquela
preguiçosa aqui, está sempre dormindo, não faz
outra coisa na vida a não ser dormir e mocorongar.
Vai lá, vai lá, é capaz de vir aqui ficar dormindo no
sofá. Ma que bella visita você me arruma!!!
Bernadete pondo água benta disse: mas ela é uma
tia tão querida.
É querida, mas está sempre dormindo, diz d. Luiza,
sempre dormindo, quando se tem um compromisso
se você vai com a Alzira ela demora que demora.
Você não lembra como ela já deu trabalho?
Um a vez no casamento do Orestes, ela cismou que
queria ir com a gente e de tanto que seu pai insistiu,
que ela era parente, que eu concordei. Ah quello
vecchio !!! disse d Luiza à Bernadete.
Vocês eram todos pequenos e um casamento era um
motivo para se passear. Na época não se saía toda
semana e a gente tinha que trabalhar na roça,
cuidando da criação.
Então ir a cidade num casamento, tinha todo um
sabor diferente do que é hoje e então preparamos
tudo.
Dona Luiza continuou. Compramos roupa nova,
compramos sapatos para vocês. Tu não deve
lembrar, mas você era muito criança e estava
empolgadíssima com tudo que estava acontecendo.
Aquele dia Alzira dormiu aqui já para evitar qualquer
transtorno e tudo ia bem até que ela começou a se
arrumar. Subiu para o seu quarto ele ficou lá. O
casamento era às 7 h horas da noite e eram 6 horas
e nada da Alzira descer. Quando eu fui chamar ela
como sempre começou: adesso vado, já estou
indo...
Alzira, já são 6:15h, a gente precisa ir, estão
esperando na igreja e o padre não espera.
Eh và, lá, respondeu Alzira, aspetta um pouquinho,
estou pondo os brincos.
Desci e fui falar com seu pai, disse d Luiza a
Bernadete.
---está vendo seu vecchio pazzo o que você foi fazer,
trazer a Alzira é não ter hora para sair, maledetta
hora que fui te escutar....
Ele como sempre quando eu estava brava, ele me
olhou deu uma risadinha de ironia e disse: ah sua
stupidona --- disse isto e voltou a sentar no sofá.
Ah quello vecchio !!!
Eu voltei lá...
--- Alzira, está pronta?!!
---- estou terminando disse Alzira, pondo os brincos,
já disse, calma, adesso vado!!! aspetta, espera um
pouquinho
--- ma que, estes brincos são tão especiais e
solitários, que você precisa conversar meia hora com
eles, vamos com isto, que se demorar mais de dou
um pugno in testa --- disse d Luiza.
***
Alzira sempre foi assim, a vida inteira, tinha um
tempo de fazer as coisas só seu, para irritação das
irmãs e cunhadas, para desespero dos
compromissos. Depois de mais de duas horas, d
Alzira saiu, e todos puderam finalmente ir.
Já eram oito horas e como o bairro (***) ficava
longe da catedral, branca e majestosa naquele vale,
complementando a paisagem de um lugar que
parecia a Europa no sul do pais, eles chegaram à
igreja somente as 8:20 h, com o casamento
praticamente no fim e os convidados já quase para
se levantar e irem para a festa, próximo onde d
Luiza morava.
--- está vendo seu vecchio pazzo, io non disse para
não trazer a Alzira, ma você non me escuta, ela
sempre com este adesso vado adesso vado... fazia
bem o pai dela que quando ela demorava em fazer
as coisas achava ruim.
--- lembra que já te falei, que quando a gente era
criança o pai dela, uma vez, jogou pelota de barro
nela, ela estava colhendo arroz, sentou em meio a
plantação e ficou mosqueando e ele começou a falar
alto: ---vamos Alzira, acorda menina, vai dormir a
vida inteira!!
Heitor, marido de d luzia, olhou para a mulher e
sorriu, da estória contada tantas vezes, Heitor via na
mulher, a Beatriz, musa de Dante Alighieri, mas isto
é outra história.
***
Então filha, disse d luzia à Bernadete, quando a
Alzira vier, o jeito é fazer um litro de café, quem
sabe resolve --- disse e riu.
-----
vocabulario:
Mocorongando, demorando, agindo como mocorongo
(dialeto do sul)
Quello vecchio – aquele velho (italiano)
Aspetta – espera
(italiano)
Mosqueando – demorando, comendo mosca (dialeto
do sul)
um pugno in testa – um croque (italiano)
vecchio pazzo - velho louco (italiano)
stupidona – bobona (italiano)
jaboticabal, 10 de dezembro
de 2017