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Cronica e arte

CRONICA E ARTE  CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email cronicaearte@cronicaearte.com.br Rua São João 869,  148882-010 Jaboticabal SP
PINHEIRO DE NATAL Um conto de Mentore Conti “---Fez um dia chuvoso... cinza como todos os dias de chuva. Parei para olhar a agua que corria pelo vidro da janela que, indiferente aos meus pensamentos e medo, corria. O ano está terminando e lentamente as horas passam, cheguei em casa só, em meio a gente que passa, silenciosa em seus passos”. Ângela, em meio a estes pensamentos arrumava uma arvore de natal, comprada de última hora, no centro da cidade, quando ao olhar mais amiúde, um dos enfeites que estava colocando, viu-se refletida na bola de vidro que segurava... amarela.... E recordou Júlio, seu irmão. Quando criança o dia de natal era ansiosamente esperado, e era Júlio quem tinha a incumbência de cuidar da arvore de natal. Ah o tempo... incessantemente passou, mecanicamente passou... Júlio com um olhar alegre ia buscar o melhor pinheiro, ali pelos sítios da região, era criança e ia com o pai, ou um dos irmãos mais velhos, era o seu trabalho dizia Dona Dorinha, sua mãe. Ele, bom ele não podia desagradar ao Papai Noel, que deixaria um presente. Como é boa a infância, já tão longe e guardada em retratos pouco vistos, e que sempre ficam escondidos, ou em álbuns amarelados ou num arquivo de tablet qualquer. Júlio chegava todo sorridente de seu oficio e ia arrumar o pinheiro colocando-o numa lata grande vazia de banha, preso entre tijolos e, com agua para aguentar até o dia 6 no ano novo... Ângela suspirou e voltando a si, olhou a janela, este ano estaria sozinha, como nos últimos anos... –Acabou tudo, pensou, ... agora só restam estas lembranças...  agora entardecia... Ao olhar a janela viu um senhor que passava, com um andar lento que olhava com atenção as janelas da vizinhança, devia ter algum trabalho a terminar. Nestes tempos os trabalhos estão sempre para serem concluídos, em meio a uma solidão de maquinas. Por um instante vendo aquela cena, sem saber porque voltou no tempo... talvez aquele senhor parecesse alguém familiar, mas sem saber exatamente o porquê, voltou a lembrar Júlio e os natais de sua infância... Ângela Lembrou então, que na lata onde era colocado o pinheiro, Júlio além dos tijolos que fixavam o pinheiro e água dentro da lata, colocava um sonrisal para manter o pinheiro por mais tempo sem murchar... mas passado o natal e entrando o ano, o pinheiro ia sempre secando aos poucos.... A natureza, junto com o tempo desprezava a alegria de Júlio... e o pinheiro sempre secava e murchava entrando o ano... seria um reflexo destes dias cinzentos de agora.... Pensou Ângela. Não importava Júlio e os irmãos punham também um pouco de capim para as renas do Papai Noel e uns biscoitos de natal para o bom velhinho, um modo singelo e inocente de agradecer a visita.... Ângela, no meio destas recordações, olhou a janela e aquele senhor parecia procurar por alguém... tinha cabelos brancos, não dava para ver mas parecia ter barba também.... Estava meio longe e a falta de luminosidade do lusco-fusco, e ainda o reflexo do das luzes na janela impediam sua visão. Ah!!! o passado, ...as recordações.... Naquela época uma vez o pinheiro caiu, pois uma janela ficou meio aberta, ... ventava...  e os enfeites quebraram. N’outro dia o sufoco, a correria e, no armazém vizinho da casa deles compraram outros enfeites... o pinheiro ficou pronto em tempo Ângela sempre quis uma boneca, que na sua infância era moda, com várias roupas e acessórios, mas o tempo passou e ela nunca teve este presente... outros presentes vieram, mas não a boneca... Depois veio a descoberta de que era tudo ilusão... o tempo passou e agora, só, Ângela passaria o Natal, um dia vinte e cinco como outro qualquer... um dia comum. Ah.... estas recordações.... Ângela saiu da janela, esqueceu o senhor que passava e que procurava alguém, era véspera de natal. No dia seguinte, ao sair de casa, Ângela se deparou com uma caixa embrulhada para presente, junto ao batente da porta... abriu e para sua surpresa era a boneca que sempre quis. Perguntando à uma vizinha, ficou sabendo que um senhor de barbas e cabelos brancos, chamou por ela, mas não obtendo resposta deixou o presente e pediu para dar o recado de que agradecia aos biscoitos de natal que recebia antigamente... --- não entendi o sentido do recado Dona Ângela, mas foi isto que ele pediu, insistentemente para dizer, afirmou a vizinha. Ângela diante da coincidência, diante do presente... agradeceu a vizinha e entrou... afinal devia ser uma coincidência... mera coincidência.