Cronica e arte
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PINHEIRO DE NATAL
Um conto de Mentore Conti
“---Fez um dia chuvoso...
cinza como todos os dias de
chuva. Parei para olhar a
agua que corria pelo vidro da
janela que, indiferente aos
meus pensamentos e medo,
corria.
O ano está terminando e lentamente as horas passam,
cheguei em casa só, em meio a gente que passa,
silenciosa em seus passos”.
Ângela, em meio a estes pensamentos arrumava uma
arvore de natal, comprada de última hora, no centro da
cidade, quando ao olhar mais amiúde, um dos enfeites
que estava colocando, viu-se refletida na bola de vidro
que segurava... amarela.... E recordou Júlio, seu irmão.
Quando criança o dia de natal era ansiosamente
esperado, e era Júlio quem tinha a incumbência de
cuidar da arvore de natal. Ah o tempo...
incessantemente passou, mecanicamente passou...
Júlio com um olhar alegre ia buscar o melhor pinheiro,
ali pelos sítios da região, era criança
e ia com o pai, ou um dos irmãos
mais velhos, era o seu trabalho
dizia Dona Dorinha, sua mãe. Ele,
bom ele não podia desagradar ao
Papai Noel, que deixaria um
presente.
Como é boa a infância, já tão longe
e guardada em retratos pouco
vistos, e que sempre ficam
escondidos, ou em álbuns
amarelados ou num arquivo de
tablet qualquer.
Júlio chegava todo sorridente de seu oficio e ia arrumar
o pinheiro colocando-o numa lata grande vazia de
banha, preso entre tijolos e, com agua para aguentar
até o dia 6 no ano novo...
Ângela suspirou e voltando a si, olhou a janela, este ano
estaria sozinha, como nos últimos anos... –Acabou tudo,
pensou, ... agora só restam estas lembranças... agora
entardecia...
Ao olhar a janela viu um senhor que passava, com um
andar lento que olhava com atenção as janelas da
vizinhança, devia ter algum trabalho a terminar. Nestes
tempos os trabalhos estão sempre para serem
concluídos, em meio a uma solidão de maquinas.
Por um instante vendo aquela cena, sem saber porque
voltou no tempo... talvez aquele senhor parecesse
alguém familiar, mas sem saber exatamente o porquê,
voltou a lembrar Júlio e os natais de sua infância...
Ângela Lembrou então, que na lata onde era colocado o
pinheiro, Júlio além dos tijolos que fixavam o pinheiro e
água dentro da lata, colocava um sonrisal para manter
o pinheiro por mais tempo sem murchar... mas passado
o natal e entrando o ano, o pinheiro ia sempre secando
aos poucos....
A natureza, junto com o tempo desprezava a alegria de
Júlio... e o pinheiro sempre secava e murchava
entrando o ano... seria um reflexo destes dias cinzentos
de agora.... Pensou Ângela.
Não importava Júlio e os irmãos punham também um
pouco de capim para as renas do Papai Noel e uns
biscoitos de natal para o bom velhinho, um modo
singelo e inocente de agradecer a visita....
Ângela, no meio destas recordações, olhou a janela e
aquele senhor parecia procurar por alguém... tinha
cabelos brancos, não dava para ver mas parecia ter
barba também.... Estava meio longe e a falta de
luminosidade do lusco-fusco, e ainda o reflexo do das
luzes na janela impediam sua visão.
Ah!!! o passado, ...as recordações....
Naquela época uma vez o pinheiro caiu, pois uma janela
ficou meio aberta, ... ventava... e os enfeites
quebraram. N’outro dia o sufoco, a correria e, no
armazém vizinho da casa deles compraram outros
enfeites... o pinheiro ficou pronto em tempo
Ângela sempre quis uma boneca, que na sua infância
era moda, com várias roupas e acessórios, mas o tempo
passou e ela nunca teve este presente... outros
presentes vieram, mas não a boneca...
Depois veio a descoberta de que era tudo ilusão... o
tempo passou e agora, só, Ângela passaria o Natal, um
dia vinte e cinco como outro qualquer... um dia comum.
Ah.... estas recordações....
Ângela saiu da janela, esqueceu o senhor que passava e
que procurava alguém, era véspera de natal.
No dia seguinte, ao sair de casa, Ângela se deparou
com uma caixa embrulhada para presente, junto ao
batente da porta... abriu e para sua surpresa era a
boneca que sempre quis. Perguntando à uma vizinha,
ficou sabendo que um senhor de barbas e cabelos
brancos, chamou por ela, mas não obtendo resposta
deixou o presente e pediu para dar o recado de que
agradecia aos biscoitos de natal que recebia
antigamente...
--- não entendi o sentido do recado Dona Ângela, mas
foi isto que ele pediu, insistentemente para dizer,
afirmou a vizinha.
Ângela diante da coincidência, diante do presente...
agradeceu a vizinha e entrou... afinal devia ser uma
coincidência... mera coincidência.