Cronica e arte
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O PÃOZINHO DO COELHO
A meu pai Mauro Conti (in memorian)
Uma crônica de Mentore Conti foto internet: foto 1
Porta Cintia bombardeada Rieti Itália; foto 2
bombardeamento de Terni Itália II Guerra Mundial
O sol se punha
novamente e a neve que
já tinha começado a cair
em mais um inverno,
parecia mais fria naquele
ano. Era 1943 e na região
da sabina em Rieti, a
situação da Segunda Guerra Mundial piorava cada vez
mais.
Peppe, mais uma vez se recolhia com suas ovelhas,
agora devido ao perigo, elas eram em número bem
reduzido e não podiam ir longe. Geralmente Peppe ia
com Rossana, sua irmã.
Agora os passeios eram curtos, não mais que cem ou
duzentos metros longe da casa. Havia risco de tiroteio.
A casa de Peppe ficava em uma estrada vicinal, que
acabava ligando de forma secundaria Rieti a Terni,
passando por Morro Reatino.
Como em Terni as siderúrgicas passaram a fabricar
artefatos militares, a estrada ao lado da casa de Peppe,
naqueles anos virou rota para caminhões do exército,
...eram dias tristes. Peppe tinha 8 anos e seu mundo
era rodeado de aviões de reconhecimento, aviões de
bombardeio e soldados.
Certa feita Peppe caminhava um pouco mais longe do
habitual e de repente ouviu o barulho de aviões. Ao
olhar viu uma esquadrilha, que de onde ele estava,
pareciam ter vinte centímetros cada aeroplano.
Aquela vez eram em seis aviões e quando Peppe se deu
conta, saiam dos aviões, pontinhos pretos. Ele
rapidamente viu o perigo do bombardeio e correu,
correu muito, tropeçou... correu o mais que pode,
achando que as bombas o atingiriam, não tinha certeza
disto, mas correu.
Em outra ocasião naquele ano de 1943 seu pai tomou a
decisão de sair dali, fugindo por um período em uma
propriedade que tinham próximo a Cantalice, local mais
retirado da casa onde moravam. Eram dias em que o
dinheiro nada valia e a
guerra tinha reduzido
Amintore, pai de Peppe,
com dinheiro guardado e
uma empresa, em uma
pessoa sem praticamente
nada.
A notícia viera de
supetão. Os alemães fariam uma nova varredura na
localidade. Para Peppe era tudo estranho, um medo
rondava o ar, um dos seus irmãos tinha ido como
soldado no front, não sabia se estava vivo, não se
sabia.
Medo....
No dia seguinte, depois de pegarem o que conseguiam
carregar, partiram pelo meio do mato. De repente ao
cruzarem uma estradinha Peppe viu um caminhão
alemão destruído por uma bomba e dentro, o soldado
que tinha dirigido o veículo, ...morto e ensanguentado.
Aquela imagem jamais saiu da mente de Peppe. Os
dias passavam tristes, e a família de Peppe improvisou
um buraco num barranco, coberto de folhas, onde
podiam se esconder.
Restavam alguns pães que dona Cesarina, mãe de
Peppe distribuía de pouco em pouco, mas Peppe era
criança e reclamava, com cara de choro:
--- mãe, este pão esta duro, eu não quero.
E a mãe pacientemente dizia: ---mas foi o coelho quem
trouxe só para você, me recomendou que guardasse
para você este pãozinho. Peppe então com um sorriso,
tímido pegava o pãozinho e comia, guardando o farelo
---afinal era o coelho que tinha trazido.
Ah a fome de 1943!!!! Peppe e sua família tinham que
comer o trevo azedo, cozido na agua e Peppe não
gostava, mas o pãozinho do coelho guardado com
carinho para ele, comia saboreando cada pedacinho.
--- Foi o coelho quem trouxe. Falava D. Cesarina.
Jaboticabal 22 de julho de 2024