Cronica e arte
CRONICA E ARTE CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email
cronicaearte@cronicaearte.com.br Rua São João 869, 148882-010 Jaboticabal SP
JULIA E HEITOR
Uma Cronica de Mentore Conti // foto Mentore Conti
A tarde caia lentamente
e Julia mais uma vez
com seus passos lentos
voltava ao cemitério. Já
se acostumara e, de
fato de dois anos até
aquele momento, este
passeio ela fazia duas
vezes ao mês ao campo santo e até mesmo lhe fazia
falta, se ela o não fizesse.
Júlia, tinha seus cinquenta anos e viúva há três anos,
ainda sentia a falta de Heitor. Ele era comerciário e a
parte ser trabalhador, estimado em família, tinha um
defeito… gostava de um rabo de saia.
Ela mesmo, Júlia se encantara com ele, pelo seu jeito,
pelo seu sorriso de galanteador. No íntimo, Júlia tinha
lá a sua vaidade de tê-lo conquistado.
Ela era uma moça de quase trinta anos quando
começou a namorá-lo, e roubou-o de uma mulher até
mais nova que ela. Quando ele morreu eles já estavam
casados há vinte anos e ela, neste período, vez ou
outra descobria algum caso dele.
Ela sempre o reconquistava, com seus olhos
machadianos. Agora morto, mesmo ele tendo seus
casinhos, ele lhe fazia falta.
Tinham uma intimidade grande. Ela de propósito no
meio de uma conversa, abaixava o tom em uma ou
outra palavra, só para ele não entender e ela risonha
gritar: oh seu velho surdo!!
Eram felizes e o tempo passou!!
Oh animal, gritava ela quando ficava brava com ele,
mas o que seria ofensa, era dito com um jeito tão
espontâneo e de certo modo carinhoso que ele não
achava ruim... e ele acabava rindo.
Muitas vezes ele até fazia que paquerava alguma moça
e até ia mais longe num casinho, para ela descobrir e
ele depois, a reconquistar.
Eram assim e viveram assim, felizes.
Agora, ele morto, Júlia se sentia só e as vezes ia no
cemitério, no jazigo de Heitor… ficava ali, rezava um
pouco e as vezes se pegava falando com ele.
Dizem que chegava a conversar sorrindo, igual à
quando ele era vivo. Há quem diga que chegou a ouvir
Júlia falando: agora você fica aí, com “as suas
putinhas”, com suas paqueras... E eu vou para casa,
vou passear, com um belo vestido... e você, ...fica ai!
Dizem que não havia maldade nesses dizeres e que
era só a provocação que sempre se fizeram.
Se pudesse ouvir certamente ele sorriria… e ela riria
com ele.
jaboticabal, 20 de
novembro de 2017