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Cronica e arte

CRONICA E ARTE  CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email cronicaearte@cronicaearte.com.br Rua São João 869,  148882-010 Jaboticabal SP
RETRATO EM BRANCO E PRETO por Mentore Conti Estou sentado nesse Alpendre... A casa é antiga, de pintura já um pouco desbotada, antiga como minha memória, sonhos de dias felizes, já esmaecidos e com pessoas que se perderam no tempo, ou já morreram.  Meu nome? Importa meu nome em um mundo tão cinzento de pessoas virtuais, com sorrisos falsos em páginas de rede social?  Meu notebook está aberto e ligado. Em minha página chegam posts inúmeros de almas solitárias tentando dizer: existo!  Na televisão um bombardeio de notícias do momento, notícias que encobrem as notícias de ontem, dadas com tanto alarme e sensacionalismo, mas já esquecidas por serem de ontem.  Tragédia? ... Não precisa ir longe, aqui em minha cidade acontecem crimes atrozes e a violência corre minha região, Contudo dão mais espaço para tragédia de qualquer lugar no Oriente Médio.  Eu sei que são tragédias importantes também, mas porquê mais espaço para um problema distante, enquanto temos vítimas aqui mesmo? Em meu alpendre, cercado por grades, vejo aqui mesmo um mundo desfocado e triste, mas estou esquecido como minhas memórias. Eu sei que o esforço de postar sorrisos na rede social é inútil, como disse antes, vale mais a foto de um acontecimento distante, que se possa explorar por um dia ou dois. Os reais sentimentos de tantos internautas, não importam. É suficiente deixá-los apavorados, para depois serem manipulados de alguma forma. Quando estou aqui, estes pensamentos veem ao meu redor e me fazem repousar o livro que teimosamente tento ler, em meio a esta angústia. Meu nome? Bom já que isto parece importar a você, me chamo Antonello. Antonello Junqueira de Andrade. Fui funcionário público da previdência social. Um trabalho mecânico em um ambiente cinza, ...cinza e enfadonho. Papéis, ...papéis e mais papéis, ...carimbos e arquivos. Ali eu passei trinta anos. Quando os computadores chegaram em todos os departamentos, eu já estava me aposentando, mas isto pouco importa. Pouco importa o que eu pensava da demora dos processos, do porque eram negados. No fundo, no resumo de tudo eu fui só um número. Hoje também, sou só um número. Mas que importa, estou aqui sentado e solitário. Isto parece ser o bastante. Gosto de poesias e de Mário de Andrade, na minha opinião, um grande escritor. Mas minha opinião importa? Para quem? --- não senhores, não se iludam, ...Neste mundo moderno nos tornamos com o tempo, apenas número ou uma estatística! Desculpem-me se falei alto, para que falar se hoje sou apenas um perfil na rede social, que com meus posts tento ainda sair deste anonimato, ...apenas tento... O que quis fazer na vida, o que ainda sonho, ...é como uma imagem desfocada, atrás de um portão. Enquanto penso e fico remoendo minha vida, o mundo, agora tão cibernético, vive de manchetes novas e repisadas, com sede de novidades superficiais e efêmeras. Desastres, ...epidemias, ...atentados, ...homicídios, ...tudo passando rapidamente, inebriando e cancelando a humanidade que deveríamos ter. ---E nós? ... E eu? Não tenham ilusões, por um bom tempo somos um número de “Big Data”, uma estatística de pesquisas das redes sociais, vendidos para que a indústria saiba do que gostamos e então faça um produto certo, adaptado para o nosso consumo. Os protestos não adiantam, eles entram na contabilidade destes números, para criar produtos para quem protesta, como as indústrias que fabricam camisas de roqueiros para quem protesta através do Rock, ou um boné, para quem, em uma periferia, usa o Rap como protesto. Depois com o tempo, ...que passa incessantemente, seremos como chinelos velhos, já gastos e esquecidos, ...empoeirados em algum canto da casa. Eu, Antonello, estou aqui, sentado em um alpendre, atrás de uma grade e um mundo desfocado lá fora, ...Nada mais.    
fotos Mentore Conti