Cronica e arte
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BERTO O BARBEIRO
Uma Crônica de Mentore Conti
Os dias eram quentes
naquele fevereiro de
1950 e no final da rua
(...) moravam alguns
descendentes de
italianos. Alberto, um
barbeiro filho de
calabreses, morava ali há
vários anos.
As estórias da terra distante, contadas pelos pais e
avós, terra amada e nunca vista, o falar italiano
misturado com o português, e a vida passava. Os dias
não eram fáceis, mas se vivia.
Entre o trabalhar e uma alegria inata de um filho de
calabrês, a espera de um baile num sitio para dançar a
mazurca, lá estava o Berto, como era conhecido, a
trabalhar num salão com uma cadeira velha e
perfumes fabricados, por ele.
Berto, não usava cremes fixadores para dar forma ao
cabelo e fazer um bom penteado, ele fabricava um
óleo perfumado. Misturava óleo de rícino com um
perfume e pronto.
Por duzentos réis a
mais não tinha creme
melhor, o único
problema, as vezes era
alguém que morasse
num sitio, pois, ao
chegar em casa, a
poeira gradaria no
cabelo... ma vá lá que
com o creme de marca não seria diferente!
E và o óleo de rícino perfumado, que vá bene do
mesmo jeito!!!!
--- bom dia seu Berto, disse um freguês, entrando no
salão e que vinha cortar o cabelo.
--bom dí, respondeu o barbeiro.
É verdade que o seu Vicente falou, que se alguma
galinha que o senhor cria no quintal, pular no quintal
dele, ele vai matar a galinha e cozinhar?
Vicente era vizinho de Berto, e os quintais das casas
faziam divisa pelo fundo, apesar das casas dos dois
estarem há um quarteirão de distância uma da outra.
---Ah, questo vizinho fala muito, ma que, -disse o
barbeiro – eu quero ver ele fazer isto, não tem
coragem e eu não vou deixar, o senhor sabe que não
gosto destas brincadeiras, falou o barbeiro, virando
para terminar o corte de cabelo que estava fazendo.
O salão era conhecido, apesar de humilde era muito
frequentado, muita gente da roça vinha para cortar o
cabelo ali. A prova de que Berto era teimoso estava na
calçada.
Uma lei do município obrigou os moradores a usar
uma lajota quadriculada de cimento, para padronizar a
calçada da cidade. Ao saber da lei ele disse: e io que
não faço, eu ponho um cimento e quero ver quem é
que vem tirar!!!
A calçada de cimento colocada por Berto, fora dos
padrões da lei, ficou lá por mais de trinta anos depois
que o barbeiro faleceu e o prefeito que impôs a lei
também.
Acontece que, ou para esperar a galinha passar para o
quintal do vizinho para ver se o seu Vicente pegava
mesmo e assava a galinha, ou por esquecimento,
Berto, não fez um galinheiro fechado e um dia uma
galinha fugiu.
Berto, Berto, - entrou uma vizinha no salão dizendo- o
Vicente pegou uma galinha sua que pulou a cerca e
vai cozinhar!!
Diz para ele me devolver a galinha, se non io vo lá e
busco a galinha do jeito que ela estiver lá, mesmo se
já estiver assada! Ma possa pilliá um corbo (1).
A molecada já ficou alvoroçada, ia ter folia, nada de
sério, nada de pancada, mas ia ter folia. Um dos
meninos da vizinhança, até talvez para atiçar,
provocar, foi no seu Vicente e contou, voltando com o
recado do vizinho:
-- ele que venha busca, para ele ver!!
Não deu outra, Berto disse ao freguês que estava
esperando: io já volto... e saiu...
Berto chegou na casa do seu Vicente, entrou sem
bater e foi direto para a cozinha.... sem muita
conversa, viu a galinha no fogão, já na panela e não
teve dúvida:
--- questa galinha é minha!! E io levo....
Pegou a panela com a galinha e saiu, caminhando um
quarteirão de distância, que separava as duas casas,
com a panela e a galinha dentro... ... e muitos
vizinhos dizendo: é isto mesmo seu Berto, isto
mesmo!!!
Dizem que nem a panela Berto devolveu... muitos
chamavam aquele quarteirão de quarteirão da alegria,
outros de quarteirão do feijão queimado, pois muitas
vezes se falava muito e se esquecia o feijão no fogo,
mas isto são outras histórias.
1) mas que amolação (em dialeto Clalabres)
jaboticabal, 10 de dezembro
de 2017
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