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Cronica e arte

CRONICA E ARTE  CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email cronicaearte@cronicaearte.com.br Rua São João 869,  148882-010 Jaboticabal SP
BERTO O BARBEIRO Uma Crônica de Mentore Conti Os dias eram quentes naquele fevereiro de 1950 e no final da rua (...) moravam alguns descendentes de italianos. Alberto, um barbeiro filho de calabreses, morava ali há vários anos. As estórias da terra distante, contadas pelos pais e avós, terra amada e nunca vista, o falar italiano misturado com o português, e a vida passava. Os dias não eram fáceis, mas se vivia. Entre o trabalhar e uma alegria inata de um filho de calabrês, a espera de um baile num sitio para dançar a mazurca, lá estava o Berto, como era conhecido, a trabalhar num salão com uma cadeira velha e perfumes fabricados, por ele. Berto, não usava cremes fixadores para dar forma ao cabelo e fazer um bom penteado, ele fabricava um óleo perfumado. Misturava óleo de rícino com um perfume e pronto. Por duzentos réis a mais não tinha creme melhor, o único problema, as vezes era alguém que morasse num sitio, pois, ao chegar em casa, a poeira gradaria no cabelo... ma vá lá que com o creme de marca não seria diferente! E và o óleo de rícino perfumado, que vá bene do mesmo jeito!!!! --- bom dia seu Berto, disse um freguês, entrando no salão e que vinha cortar o cabelo. --bom dí, respondeu o barbeiro. É verdade que o seu Vicente falou, que se alguma galinha que o senhor cria no quintal, pular no quintal dele, ele vai matar a galinha e cozinhar? Vicente era vizinho de Berto, e os quintais das casas faziam divisa pelo fundo, apesar das casas dos dois estarem há um quarteirão de distância uma da outra.  ---Ah, questo vizinho fala muito, ma que, -disse o barbeiro – eu quero ver ele fazer isto, não tem coragem e eu não vou deixar, o senhor sabe que não gosto destas brincadeiras, falou o barbeiro, virando para terminar o corte de cabelo que estava fazendo. O salão era conhecido, apesar de humilde era muito frequentado, muita gente da roça vinha para cortar o cabelo ali. A prova de que Berto era teimoso estava na calçada. Uma lei do município obrigou os moradores a usar uma lajota quadriculada de cimento, para padronizar a calçada da cidade. Ao saber da lei ele disse: e io que não faço, eu ponho um cimento e quero ver quem é que vem tirar!!! A calçada de cimento colocada por Berto, fora dos padrões da lei, ficou lá por mais de trinta anos depois que o barbeiro faleceu e o prefeito que impôs a lei também. Acontece que, ou para esperar a galinha passar para o quintal do vizinho para ver se o seu Vicente pegava mesmo e assava a galinha, ou por esquecimento, Berto, não fez um galinheiro fechado e um dia uma galinha fugiu. Berto, Berto, - entrou uma vizinha no salão dizendo- o Vicente pegou uma galinha sua que pulou a cerca e vai cozinhar!! Diz para ele me devolver a galinha, se non io vo lá e busco a galinha do jeito que ela estiver lá, mesmo se já estiver assada! Ma possa pilliá um corbo (1). A molecada já ficou alvoroçada, ia ter folia, nada de sério, nada de pancada, mas ia ter folia. Um dos meninos da vizinhança, até talvez para atiçar, provocar, foi no seu Vicente e contou, voltando com o recado do vizinho: -- ele que venha busca, para ele ver!! Não deu outra, Berto disse ao freguês que estava esperando: io já volto... e saiu... Berto chegou na casa do seu Vicente, entrou sem bater e foi direto para a cozinha.... sem muita conversa, viu a galinha no fogão, já na panela e não teve dúvida: --- questa galinha é minha!! E io levo.... Pegou a panela com a galinha e saiu, caminhando um quarteirão de distância, que separava as duas casas, com a panela e a galinha dentro... ... e muitos vizinhos dizendo: é isto mesmo seu Berto, isto mesmo!!! Dizem que nem a panela Berto devolveu... muitos chamavam aquele quarteirão de quarteirão da alegria, outros de quarteirão do feijão queimado, pois muitas vezes se falava muito e se esquecia o feijão no fogo, mas isto são outras histórias. 1) mas que amolação (em dialeto Clalabres)
jaboticabal, 10 de dezembro de 2017
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