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Cronica e arte

CRONICA E ARTE CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email cronicaearte@cronicaearte.com.br Rua São João 869, 148882-010 Jaboticabal SP
O VISITANTE Esta crônica é baseada em fatos reais Por Mentore Conti ---Seu pre,... pre,.... pre... gaguejou João, o porteiro da prefeitura de (***) ao praticamente arrombar a porta do gabinete do prefeito e interromper uma reunião de secretários. Quando a voz saiu e ele conseguiu pronunciar o cargo do mandatário local, já não tinha mais fôlego, assustado que estava, ainda mais depois de subir uma escadaria de respeito, daquelas que se construíam na década de 1930, em madeira de lenho maciço, madeira de lei. --- prefeito é urgente – terminou João sua frase, já sendo perguntado com arrogância pelo prefeito, com que ordem, ele um porteiro tinha entrado sem bater e interrompido a reunião do gabinete. ---Eu não disse que era uma reunião importante e que não queria ser interrompido por ninguém?!!!, vociferou ainda mais alto o prefeito, sendo seguido por olhares subservientes de seus secretarios, ao aprovarem a reprimenda ao porteiro. Nestas alturas, João, o misero porteiro de uma prefeitura perdida no interior deste São Paulo, vendo a viola em caco ainda tentou completar, o que o levara a cometer um ato tão insolente quanto a levar a porta do gabinete no peito, e desconsiderar quem estava com a palavra na reunião. ---Pre... Prefeito, tem um Ge,... Ge,... general que chegou de Brasília, e quer fa, ..falar urgente com o se, ... senhor! De uma hora para outra um silencio tomou conta da sala, os sorrisos, de aprovação ao Prefeito, que fizera uma reprimenda ao porteiro, se calaram e no máximo cada qual naquele ambiente tentava contar os botões de suas camisas. Silêncio, ... podia se ouvir uma mosca voando e talvez a própria mosca não quisesse fazer ruído. Era 1977, o Brasil vivia, ainda que não se percebesse, um combate a guerrilha rural e, um dos líderes da guerrilha era da cidade, que saíra em 1970 para a capital do Estado, e morrera no combate que o Exército fazia contra os guerrilheiros. Silencio, um silencio onde nem mesmo se ouvia o tiquetaquear dos relógios de parede ou de pulso e, uma pergunta rondava a cabeça do prefeito, secretarios e do próprio porteiro, que diante de tanto silencio, tinha medo de sair da sala e que o barulho de seu sapato no assoalho, causasse mais pânico do que se via no ambiente. O prefeito olhou de viés..., como a pedir ajuda, ... mas como, ...um General de Brasília? Teria sido feita, em algum Inquérito Policial Militar, a ligação entre ele e a família do subversivo nascido ali, naquele município? Mas era uma família ilustre da cidade, ... como desdenhar a família por causa de um jovem aloprado? Eles levariam isto em conta? Estas perguntas o prefeito se fazia, em um silencio sepulcral, a medir centímetro por centímetro o rodapé da sala, sem ter coragem nem mesmo de dizer um ...Ah! --- E Agora?? Que vontade de ser o porteiro, ... o faxineiro do prédio. Não!!! Era o prefeito a pessoa procurada por um General de Brasília. --- E agora? Esta era uma preocupação dividida por cada secretario ali e inclusive João, o porteiro.... ---E agora? Muitos ali pensaram em sair e fugir... mas por onde se o único acesso àquela sala no primeiro andar do prédio, tinha como saída, única saída, a sala de espera, no térreo, depois da porta principal e única de entrada, onde estava o general. O tempo passava, mas o prefeito e os demais presentes, não ouviam o relógio. Pensou-se em verificar se havia algum carro do Exército para carregar prisioneiros, mas faltou coragem. Anos antes, um vereador foi destituído do cargo e foi na capital, responder um Inquérito Policial Militar. Estava solto já, mas ninguém tinha contado o que se passou em São Paulo, no IIº Exercito. Um advogado, que anos antes enquanto estudava fora preso e levado a São Paulo, estava de volta, mas não contava o que se passou... Silencio.... Passados alguns minutos, o prefeito se atreveu a perguntar em voz baixa e tremula: ---E Agora? Que podemos fazer? – a voz saiu apagada, sem a arrogância que tivera com o porteiro, e tímida o bastante para que apenas os secretários mais próximos de onde o prefeito estava, ...ouvissem. Um secretário, pálido de pavor, ... com a vida passando em um filme imaginário, disse com uma voz mais pálida ainda: --- não tem jeito, ... se ele, o General quer falar, conversar com o senhor, vamos ver o que é... Depois, com a voz sumindo disse, ---deve sobrar pra mais alguns de nós. Dessa vez a voz sumiu de vez, como um rádio que com a pilha sem energia, desliga fazendo o som transmitido, parar. Tomada a resolução pediu-se ao porteiro que pedisse que o General subisse e lhe fizesse estrada, lhe acompanhasse. Quando o General entrou foi pedido que lhe trouxessem um café, feito na hora e ao prefeito, coube a iniciativa de falar, e então perguntou: ---Por favor, o que o senhor deseja? E concluiu, acomode-se por gentileza. --- pois não, eu estou trabalhando no Ministério da Educação e Cultura e como estou a caminho de Ribeirão Preto, aproveitei para passar. O General então disse que recebera uma carta de um jornalista da cidade, dizendo que seria interessante aumentar os livros da Biblioteca Municipal e ele então queria saber que livros eram mais interessantes e necessários. Neste momento o alivio pode se sentir na sala e, muitos que ali estavam esperando o pior passaram a respirar aliviados, retomando o folego. O café foi servido, agora com gentilezas e pompa, perguntando ao General visitante se gostava do clima da localidade e completou-se, que ele seria sempre bem-vindo. O tiquetaquear dos relógios voltou a ser sentido pelos presentes e a vida na localidade voltou a sua mesmice interiorana de sempre.
fotos Foto de Francesco Ungaro, Foto de MING-CHENG WU//Pexels