Cronica e arte
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DANDO O AR DA GRAÇA
Toda sexta feira
era esperada por mim como
um dia especial. Era o dia
que meu pai contava
historias de sua vida. Eram
histórias de lutas, de
vitórias, derrotas,
engraçadas e de fantasmas
que apareciam, ajudavam e
depois iam embora. Lembro-
me bem, eram sempre as mesmas histórias, mas
gostávamos de ouvi-lo contar, sempre havia um detalhe
novo a cada conto nos mesmos contos.
O fogão de lenha no quintal que também
servia para esquentar água para o banho era alimentado
por lenha e gravetos que eu recolhia durante a tarde. O
fogo era aceso pelas 16h. O banho era de canequinha e
bacia. Tínhamos uma sanfona em casa. Meu pai arriscava
algumas teclas, mas quem dava o show era meu irmão.
Ah! Pela primeira vez ouvi sendo tocada na sanfona a
música “Saudades de Matão”.
Pela noite adentro então, prestávamos
atenção nas histórias de meu pai. Ele fazia o relato com
entonação de vozes, arregalava os olhos e abrilhantava
com efeitos sonoros. Era muito legal. Fazia frio sempre,
as vezes menos, as vezes mais. Morávamos perto do rio e
a serração começava a baixar. Nada de energia elétrica.
Nada de muros, portas e janelas. Nossa casa tinha
apenas as paredes e o telhado e era de chão batido.
Lembro-me sempre que minha mãe jogava água e cinzas
brancas no chão para não sujar os pés.
A comida toda era feita no fogão a lenha.
Panelas de Ferro, canecas de latas com as asas rebitadas
que meu pai fazia. Lembro-me do gosto da limonada feita
com limão cravo. Era saborosa e muito forte. O limão
corroia a lata e a limonada ficava com o gosto de
ferrugem.
Nos meses de Junho e Julho era mais frio. Eu
tinha uma blusa de lã verde água, com uma gola bem
comprida que cobria a nuca e as orelhas. Precisava ser
usada com uma camiseta por baixo, se não, dava coceira.
Apareceu por lá numa destas noites um velho
de barba e cabelos brancos. Usava uma roupagem rota, e
de chapéu de palha. Pouco se entendia o que ele falava.
Ele se apresentou com o nome de Sr. Mario. Tocava
muito bem a sanfona, e executava com maestria tipos de
musicas de diversas regiões do mundo: Tango, Tarantela,
Boleros e outros estilos musicais bem divertidos. Quase
amanheceu em nosso quintal naquela madrugada.
Jantou, aceitou alguns pães que minha mãe ofereceu e foi
embora. Nunca mais o vimos. Acredito que aquela figura
saiu de uma das histórias que meu pai contava e resolveu
dar o ar da graça.
CONTOS & PIPOCA
João Martins Neto
FOTOS Facebook do autor Pexels e foto da internet trabalhada pelo
autor
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João Martins Neto é Advogado e
Jornalista eescreve neste site também
na coluna Falando Sério