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Cronica e arte

CRONICA E ARTE  CNPJ nº 21.896.431/0001-58 NIRE: 35-8-1391912-5 email cronicaearte@cronicaearte.com.br Rua São João, 869,  14882-010, Bairro Aparecida Jaboticabal SP
A CASA AMARELA O ano é 1972, a velha Margot morava na antiga Rua Paracaiba Bairro Velha x Rua dos Deozal. O seu transporte ainda era uma charrete. Nunca se via ela sair da garagem. A casa sempre foi amarela e tinha uma razão. Naquele local sempre havia uma movimentação do senhor Sharp, filho mais novo da velha Margot preparando a tinta para pintar as paredes. O local era popular, visitado por muita gente, que ao se dirigirem ao ponto de ônibus coletivo que era na frente da casa amarela, paravam obrigatoriamente na sua frente. As crianças eram curiosas para saber como seria a pintura. Que materiais seriam utilizados e de que forma o senhor Sharp iria passar aquela tinta na parede, coisas de criança. Estavam ali a toda hora. A velha Margot preparava bolinhos de chuva, as vezes doce as vezes salgado, e para acompanhar, um cafezinho delicioso preparado no fogão a lenha, que era oferecido a quem quisesse. Uma voz lá de dentro gritava: - Quer entrar? A pintura era a base de água e cal. O senhor Sharp colocava uma lata de óleo na mistura que dizia servir para "correr a brocha" na parede. A primeira demão era no sentido vertical e a segunda demão no sentido horizontal que segundo ele, era para "fechar a pintura". Sempre na hora de almoço todos que ali faziam parada para esperar o coletivo, se deliciavam com o aroma das comidas italianas preparadas, por certo, como muito esmero e receitas importadas. Indubitavelmente da Europa, acredita-se, da Itália: - Polenta, frango, almondegas, porpetas e o delicioso espaguete podiam ser visto por cima do muro baixo fervendo nas panelas de ferro. Era visível que a casa ficava desarrumada para possibilitar a pintura. Ouviam-se barulhos, ruídos como os de arrastar cadeiras, mesa e armários. Embora se ouvisse conversas lá dentro, não dava para ver quem eram as pessoas que ali estavam, apenas, silhuetas e vultos vistos pelo vidro das janelas e portas que sempre estavam fechadas. Por aquelas frestas visíveis das portas e janelas, pedaços de papelão eram jogado pelas pessoas que estavam lá, mas todos o pedaços de papelão caiam dentro do quintal longe do muro. Um dia, acabei pegando um deles e o li. Estava escrito: - Quer entrar? Muitas ferramentas estavam espalhadas e a disposição inclusive uma escada que o senhor Sharp mesmo construiu. Mas o que mais me chamava a atenção era a coloração da tinta que ele preparava. Ele trazia umas pedras pesadas e elas soltavam um pó amarelo que dava a coloração amarela naquela mistura. Por aquele ano inteiro, esta foi a rotina da casa que tinha a coloração amarela. Era o mês de Dezembro, e a casa estava pronta, parecia que havia sido preparada durante o ano todo ficando bonita para o natal e para começar o ano novo, reformada.  Ocorre que todas as pessoas que se aproximavam da casa para conversar com alguém, ou para melhor ver a movimentação ali que era interminável, acabavam por entrar na casa e não mais retornavam, ficando presas àquela realidade. Eu entrei e estou até hoje dentro dela. Esta história eu escrevi em um papelão e joguei pela fresta da janela e por sorte caiu na calçada. Pedi para a pessoa que lesse o relato, publicasse e advertisse ao leitor que se ocorresse mais de uma vez a leitura da casa amarela por ele, iria perceber que o enredo mudou o tempo do relato e personagens. A casa amarela está na sua frente. - Te pergunto: - Quer entrar?
CONTOS & PIPOCA
João Martins Neto
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