Cronica e arte
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A CASA AMARELA
O ano é
1972, a velha Margot
morava na antiga
Rua Paracaiba Bairro
Velha x Rua dos
Deozal. O seu
transporte ainda era
uma charrete. Nunca
se via ela sair da
garagem. A casa sempre foi amarela e tinha uma razão.
Naquele local sempre havia uma movimentação do
senhor Sharp, filho mais novo da velha Margot
preparando a tinta para pintar as paredes.
O local era popular, visitado por muita gente,
que ao se dirigirem ao ponto de ônibus coletivo que era
na frente da casa amarela, paravam obrigatoriamente na
sua frente. As crianças eram curiosas para saber como
seria a pintura. Que materiais seriam utilizados e de que
forma o senhor Sharp iria passar aquela tinta na parede,
coisas de criança. Estavam ali a toda hora. A velha
Margot preparava bolinhos de chuva, as vezes doce as
vezes salgado, e para acompanhar, um cafezinho
delicioso preparado no fogão a lenha, que era oferecido
a quem quisesse. Uma voz lá de dentro gritava: - Quer
entrar?
A pintura era a base de água e cal. O senhor
Sharp colocava uma lata de óleo na mistura que dizia
servir para "correr a brocha" na parede. A primeira
demão era no sentido vertical e a segunda demão no
sentido horizontal que segundo ele, era para "fechar a
pintura".
Sempre na hora de almoço todos que ali
faziam parada para esperar o coletivo, se deliciavam
com o aroma das comidas italianas preparadas, por
certo, como muito esmero e receitas importadas.
Indubitavelmente da Europa, acredita-se, da Itália: -
Polenta, frango, almondegas, porpetas e o delicioso
espaguete podiam ser visto por cima do muro baixo
fervendo nas panelas de ferro.
Era visível que a casa ficava desarrumada
para possibilitar a pintura. Ouviam-se barulhos, ruídos
como os de arrastar cadeiras, mesa e armários. Embora
se ouvisse conversas lá dentro, não dava para ver quem
eram as pessoas que ali estavam, apenas, silhuetas e
vultos vistos pelo vidro das janelas e portas que sempre
estavam fechadas. Por aquelas frestas visíveis das
portas e janelas, pedaços de papelão eram jogado pelas
pessoas que estavam lá, mas todos o pedaços de
papelão caiam dentro do quintal longe do muro. Um dia,
acabei pegando um deles e o li. Estava escrito: - Quer
entrar?
Muitas ferramentas estavam espalhadas e a
disposição inclusive uma escada que o senhor Sharp
mesmo construiu. Mas o que mais me chamava a
atenção era a coloração da tinta que ele preparava. Ele
trazia umas pedras pesadas e elas soltavam um pó
amarelo que dava a coloração amarela naquela mistura.
Por aquele ano inteiro, esta foi a rotina da casa que
tinha a coloração amarela. Era o mês de Dezembro, e a
casa estava pronta, parecia que havia sido preparada
durante o ano todo ficando bonita para o natal e para
começar o ano novo, reformada.
Ocorre que todas as pessoas que se
aproximavam da casa para conversar com alguém, ou
para melhor ver a movimentação ali que era
interminável, acabavam por entrar na casa e não mais
retornavam, ficando presas àquela realidade. Eu entrei e
estou até hoje dentro dela. Esta história eu escrevi em
um papelão e joguei pela fresta da janela e por sorte
caiu na calçada. Pedi para a pessoa que lesse o relato,
publicasse e advertisse ao leitor que se ocorresse mais
de uma vez a leitura da casa amarela por ele, iria
perceber que o enredo mudou o tempo do relato e
personagens. A casa amarela está na sua frente. - Te
pergunto: - Quer entrar?
CONTOS & PIPOCA
João Martins Neto
FOTOS Facebook do autor Pexels e foto da internet trabalhada pelo
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