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AUGUSTO DOS ANJOS E O SEU POEMA “A OBSESSÃO DO SANGUE”
Por Mentore Conti Mtb 0080415 SP fotos Dominio Público
(após o artigo o video do poema e seu texto (declamação, gravação e
montagem Mentore Conti)
Jaboticabal, 12 de setembro de 2023
Prezados internautas eis que retomamos o trabalho
sobre o poeta Augusto do Anjos e desta vex trazemos
um poema denominado “A Obsessão do Sangue”,
poema que não está contido no livro eu, mas em um
volume póstumo. Quando faleceu aos trinta anos de
idade, naquele 12 de novembro de 1914, recomentou
a sua mulher Ester Fialho, que cuidasse bem de seus
versos ainda não publicados.
Nesta retomada, nunca é demais lembrar que
Augusto dos Anjos, nasce de uma família prospera de
proprietários rurais na Paraíba, em 20 de abril de
1884, - “Engenho Pau D’Arco, Vila do Espírito Santo,
atual município de Sapé,”Sua Família proprietária do
engenho, e ele viu a decadência dos engenhos e
ascensão das usinas, período que mais tarde foi bem descrito por José Lins
do Rego como Fogo Morto, em um romance com este título.
O poeta se formou em direito, mas preferiu não advogar, passando a lecionar
ainda na Paraíba. Augusto dos Anjos, influenciado por autores e professores
da época e pela própria decadência daquela vida rural até então existente,
de onde também analisa o ser humano em sua atitude diante da sociedade,
que lhe vira as costas, que é indiferente a seus anseios, cria um estilo
próprio.
Este estilo não reflete somente sua biografia, mas a situação miserável do
Ser Humano e da sociedade, questões que abordaremos mais tarde.
Augusto dos Anjos viveu em uma época de grandes transformações inclusive
na arte. No panorama mundial, nós vamos ter na Rússia o futurismo em
1905, que tinha como um de seus expoentes Wladimir Maiakovisk, já na
Itália em 1909, nós temos o futurismo com Filippo Tommaso Marinetti,
movimentos que revolucionavam as artes em geral e a literatura.
Em Augusto dos Anjos temos a
influencia de autores como o filósofo
Arthur Schopenhauer (1788-1860) ,
e do escritor Goethe (1749-1832).
Estas e outras questões, nós vamos
falar a cada tema postado, deste
escritor que marcou a literatura
brasileira de um modo ímpar e que
antes da crítica, que o rejeitou até
1929, como lembrou certa vez o
poeta Ferreira Goulart, o povo o
aclamou, muito pelo trabalho de professores e alunos da escola onde o
poeta foi diretor em Leopoldina Minas Gerais.
Em 2022 o Secretário de Cultura de Leopoldina, Alexandre Moreira, disse,
em entrevista ao ao Jornal Cronica e Arte, que depois da morte do poeta, o
diretor que o substituiu, veio a se casar com a viúva de Augusto dos Anjos e
passou, vendo a qualidade dos poemas, a fazer grupos de estudos sobre o
escritor.
QUANTO AO POEMA “A OBSESSÃO DO SANGUE”
Este poema cujo texto colocamos abaixo narra um jovem que acorda e se
vendo doente começa a analisar, sua vida sua existência. O próprio ato de
acordar e perceber-se doente, pode em uma das leituras possíveis, significar
a sua tomada de consciência, que ele como criatura, como Homem, foi
sugado e massacrado pela sociedade em que vive.
A colocação de sua angustia, ao ver sua
carne usada em meio ao sangue geral que a
sociedade provoca a cada ser humano e,
como ele neste instante de consciência passa
a desejar e amar a prória morte é
magistralmente descrita por Augusto dos
Anjos.
De fato o desejo do não ser, diante de uma
sociedade angustiante e sufocante é um fato
cotidiano em uma sociedade como a nossa,
onde nos transformamos em números e dai, a
atualidade deste poeta que viveu apenas 30
anos e morreu em 1914.
Nos dias de hoje quando vemos o brilho falso de redes sociais e da mídia,
vemos o quanto são atuais os temas de um poeta, que não viveu em uma
era como a nossa, mas que intuiu o destino da miséria humana.
Augusto dos Anjos não nos poupa de nossa miséria, e é este fator que o
torna um poeta com uma fala que nos alerta, que nos convida a sair de um
mundo de hipocrisia e aparências, um poeta que em uma obra fascinante .
Logo após video com o poema leia o seu texto:
(Clique no vídeo para assistir/ouvir)
A OBSESSÃO DO SANGUE
Acordou, vendo sangue... Horrível! O osso
Frontal em fogo... Ia talvez morrer,
Disse. Olhou-se no espelho. Era tão moço,
Ah! Certamente não podia ser!
Levantou-se. E, eis que viu, antes do almoço,
Na mão dos açougueiros, a escorrer
Fita rubra de sangue muito grosso,
A carne que ele havia de comer!
No inferno da visão alucinada,
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,
Viu vísceras vermelhas pelo chão...
E amou, com um berro bárbaro de gozo,
O monocromatismo monstruoso
Daquela universal vermelhidão!
Augusto dos Anjos