Cronica e arte
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AUGUSTO DOS ANJOS: UM POUCO DA SUA VIDA E SUA
OBRA
Uma vida de luta, sofrimento e poesia
Mentore Conti Mtb 0080415 SP fotos Dominio Publico,
Jornal Leopoldina e Unicamp (no final do artigo um
poema de Augusto dos Anjos)
Jaboticabal, 6 de novembro de 2022
A degeneração e fraqueza do
corpo que advém com a idade, a
solidão, a ingratidão, …a miséria
humana. Estes temas tão
modernos e que muitas vezes,
pensamos ser uma preocupação e
discussão contemporânea, foram,
na realidade, os temas dos
poemas de Augusto dos Anjos.
Corria o ano de 1914 e um
professor que morrera em
Leopoldina MG ia ser sepultado.
No cortejo o diretor do Colégio, familiares e conhecidos.
Durante o enterro uma chuva cai na cidade e quem
acompanhava o enterro teve que rapidamente se abrigar.
Augusto dos Anjos, diretor da escola, que pouco tempo
antes assumira o cargo, acaba se molhando e fica
doente.
A doença evolui para uma pneumonia dupla e naquele 12
de novembro de 1914, sem remédios e nem penicilina,
que seria descoberta 14 anos depois, em quatro meses,
ele diretor do colégio vem a falecer com apenas 30 anos
de idade.
Mas paremos por ora, nossa história aqui, para voltar no
tempo, de alguns anos, da data em que este grande
poeta brasileiro, pouco reconhecido em sua terra natal, e
mesmo no Rio de Janeiro vem a falecer.
Augusto dos Anjos, um poeta e, como todos os grandes
poetas, esteve a frente de seu tempo. Nascido no
Engenho de Pau D’ Arco em 20 de abril de 1884, Vila do
Espírito Santo, atual município de Sapé, na Paraíba, era
de família bem posicionada, inclusive financeiramente.
Mas a época era de mudanças e os
engenhos fechavam, paravam, e com
suas fornalhas agora já apagadas,
eram chamadas de “fogo morto”
(como bem reportou em seu romance
Fogo Morto, José Lins do Rego) e
dando lugar às usinas.
Na virada do Século, mais
precisamente em 1907 Augusto dos
Anjos forma-se em Direito em Recife,
mas a vocação de poeta fala mais alto
e ele, acaba se tornando professor na
Capital Paraibana e desfruta então de forte amizade com
o presidente da província que era João Lopes Machado.
Quando quis lançar seu livro, viu que o lançamento teria
mais repercussão se ele, Augusto dos Anjos, estivesse no
Rio de Janeiro, então Capital Federal do país. Indo até o
presidente da província (na época cada Estado era
chamado província e seu governante. Presidente), Joao
Lopes Machado não aceitou que o poeta se afastasse com
vencimentos.
O motivo real da recusa não se sabe, mas Augusto dos
Anjos atuava como professor no Liceu da Capital e era
muito bem quisto na cidade da Paraíba (hoje Joao
Pessoa), e talvez sua presença junto ao Presidente da
província dava prestigio a este governante.
O fato é que o Presidente da Paraíba se recusa e a
conversa vira uma discussão, sendo que João Lopes
Machado disse pra que Augusto dos Anjos não lhe
amolasse mais com este assunto. O poeta então vai para
casa e anuncia a mulher que eles irão parta o Rio de
Janeiro, e na manhã seguinte partem no primeiro navio
que tem à disposição e então o Presidente da Província o
demite.
Depois de uma viagem com incertezas e sonhos e na
busca de seu espaço como poeta
que era, Augusto desembarca na
Capital Federal e se instala em uma
pensão, com sua mulher, Ester
Fialho, grávida de 2 meses.
Sua atividade no Rio não sai como
imaginara, e trabalha com aulas
particulares e depois é nomeado no
Colégio D Pedro II, como professor
substituto. A penúria é grande como
narra um seu amigo, também
paraibano.
Havia no Rio de Janeiro naquele
final de 1910, mais precisamente,
em outubro, uma mudança de governo, e aconteceu
também a Revolta da Chibata, quando o Marinheiro João
Candido, cria um motim para que a Marinha deixe de ter
em seu código a pena da chibata a que era submetido os
marinheiros
indisciplinados.
Os marinheiros
amotinados ameaçam
bombardear a Capital.
Depois a revolta se
resolve com o fim da
punição e prisão dos
revoltosos.
A cidade a pouco
tivera uma reforma
urbana e tinha muita
febre amarela, sendo
uma cidade insalubre. Claro que este ambiente, leva
nosso poeta a repensar ainda mais na tragédia humana.
Junta-se a isto a morte prematura de seu primeiro filho.
Augusto dos Anjos já tinha passado por tragédias
pessoais, perdera a mãe aos 7 anos, e tinha perdido das
condições boas da infância, com a decadência dos
engenhos que descrevemos antes, isto fez com que ele,
Augusto dos Anjos, na época em que estudava em Recife,
Pernambuco, lesse autores como Schopenhauer, Spencer,
entre outros, na busca do mistério do sofrimento e da
tragédia.
Em 1912 Augusto dos Anjos, publica seu único livro “EU”
e seu irmão financia a edição. Por causa da penúria que
passa, Augusto dos Anjos tenta ser vendedor de seguros,
mas não obtém resultado.
Quando o livro sai editado a crítica não o recebe bem,
chamando os poemas de literatura mau gosto. Afinal em
uma época onde os
poemas em grande
parte da literatura
brasileira, tinham
temas falando de
felicidade, de um
mundo de sonhos,
Augusto dos Anjos, tem
um estilo mórbido e
ácido, trazendo temas
e questões não antes levantadas na literatura, muito
menos com a intensidade em que escreve.
Autores renomados o rejeitam como Olavo Bilac. Augusto
dos Anjos, escreve de modo parnasiano, mas tem um
viés modernista, afinal não nos esqueçamos que o
futurismo na Rússia surgiu em 1905 com Maiakovski e na
Itália em 1910, com Marinetti, mas disto falaremos em
outra oportunidade.
A penúria era tanta que chegou a mudar de casa dez
vezes em um ano para tentar pagar menos aluguel, em
época de reajustes.
Em 1914 um concunhado seu, Romulo Pacheco conseguiu
junto a Ribeiro Junqueira, Deputado da região de
Leopoldina MG, que Augusto dos Anjos fosse nomeado ao
cargo de Diretor do Grupo Escolar de Leopoldina. A sorte
parecia mudar para o poeta, que na cidade sempre levou
uma vida modesta, mas o salário, ainda que não fosse
muito grande, fazia frente as despesas familiares que
tinha.
O restante da história de Augusto dos Anjos e, como a
sorte lhe foi madrasta, já contamos no início do artigo.
Segundo o Secretário de Cultura atual de Leopoldina,
Alexandre Moreira, depois da morte do poeta, o diretor
que o substituiu, veio a se casar com a viúva de Augusto
dos Anjos e passou, vendo a qualidade dos poemas, a
fazer grupos de estudos sobre o escritor.
Alexandre Moreira disse, em conversa e entrevista com a
editoria deste Site/Jornal, que foi a partir destes grupos
de estudos que as obra de Augusto dos Anjos passou a
ser difundida e, na medida que os alunos passavam a ter
suas profissões, esta obra foi mais divulgada ainda.
Além disto seus poucos amigos no Rio de Janeiro e
mesmo Gilberto Freire, trabalharam na divulgação da
obra do autor. Nas vésperas de falecer ele deixou outros
poemas organizados, que nas edições seguintes de EU,
foram publicados como Eu & outras poesias.
Anualmente Leopoldina MG realiza a Semana anjosiana,
da qual falaremos mais neste jornal e também em outros
artigos abordaremos analises e aspectos da obra de
Augusto dos Anjos. Com este artigo então, damos inicio a
esta coluna sobre Augusto dos Anjos;
Clique na foto ao lado
e leia o poema
Psicologia de um
venncido de Augusto
dos Anjos
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