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PARA ALÉM DO DIREITA ESQUERDA
Publicado originalmente na coluna Vespeiro do Diário de
Votuporanga 14.07.2023 // fotos Dominio Publico
Danilo: Bruno Arena: Mestre em Direito Penal e Humanos pela Universidade de
Salamanca (Espanha). Especialista em direito penal e direito eleitoral. Presidente do
Rotary Club Votuporanga 2022/23. Vice-Presidente da ACILBRAS. Membro do
Observatório da Democracia. Proprietário do Cine Votuporanga. Autor e tradutor de
livros. Advogado. Instagram @adv.brunoarena.
Sequenciando a coluna da semana
passada, apresentamos a que esta
coluna “Vespeiro” se destina e iniciamos
com uma pílula sobre as denominações
políticas Direita e Esquerda.
Dizíamos que há muitas questões
na nossa sociedade, que é cada vez
mais complexa, que são insuscetíveis
de enquadramento no que hoje
denominamos de polarização política:
democracia, progressismo, conservadorismo, direitos
individuais, direitos sociais, direitos humanos, entre outras.
Ainda que consideremos essas várias questões, já temos
uma redução da análise, porque se acrescentarmos o aspecto
institucional dos 33 partidos políticos aptos a lançar candidatos
e dos outros 79 em processo de formação, a equação fica ainda
mais complexa. E se descendermos das alianças federais às
municipais, passando pelas estaduais e regionais, fica
impossível.
Uma primeira pergunta que nós cidadãos, que nos
consideramos de direita ou de
esquerda, deveríamos nos fazer
seria: “se estou me auto-
intitulando de esquerda ou de
direita, qual o conteúdo do
conceito? O que penso ou quais
visões de mundo endosso com
meu posicionamento?”.
As respostas vão desde
visões históricas e pessoais das referências de cada
denominação até a consideração da direita e da esquerda como
caixas vazias como disse Sartre, e desta maneira poderiam ser
preenchidas por quaisquer
objetos e oportunismos.
A vida é mais real e mais
cheia de nuances do que
nossas tentativas de
classificação político-
científicas, mas pelo menos, de acordo com Bobbio, podemos
afirmar que para além das ideologias, “direita” e “esquerda”
indicam programas supostamente contrapostos em relação a
diversos problemas a serem resolvidos pela ação política, além
de valorações a respeito
da direção a ser seguida
pela sociedade.
Defendo que não há
certo ou errado no que
tange às nossas auto-
intitulações em relação ao
lado ou ao muro; faz parte de uma sociedade democrática. O
que temos que evitar são as incoerências e fundamentos
errados que levam inevitavelmente a implicações erradas, já
que isso empobrece o debate.
Digo em termos conceituais, porque até se admitiria alguns
erros técnicos em discursos políticos para a militância, visando a
uma agregação e coesão sob uma bandeira: o mais crasso é
chamar a esquerda à brasileira de comunista e a direita à
brasileira de fascista. Como nos ensinou Spinosa, a política é
baseada em afetos e às vezes a racionalidade poderá ficar
deficitária.
Um outro exemplo de incoerência são os Direito Humanos.
No Brasil consideramos direitos humanos como algo de
esquerda. Sua raiz remete ao século XVI com Francisco de
Vitória da Universidade de
Salamanca, e mais modernamente,
ao ano de 1948 com Declaração
Universal dos Direitos Humanos da
ONU.
Vejam o artigo 3º: “todo
indivíduo tem direito à vida, à
liberdade e à segurança pessoal”.
Direito à vida, liberdade e à
segurança são, no senso comum,
identificados com a direita liberal,
além disso, alguém de direita, em sã consciência, seria contra
esses direitos humanos?
Como últimas linhas desta coluna, o que podemos afirmar
com certeza é que as bandeiras e o poder da identidade são
muito poderosos. Tentativas de atuação política como os
círculos de cidadania surgidos na Espanha, que partiam da
premissa de que o poder constituído não tem receio de direitas
e esquerdas, mas de maiorias, e que tive a oportunidade de
acompanhar alguns espasmos no
Brasil, são muito difíceis de serem
implementados devido ao poder da
identificação com determinada
bandeira.
Lembro que os participantes se
levantavam para contribuir com o
debate e muitos pregavam que não
deveriam abandonar suas bandeiras,
mesmo que fosse para juntar forças por algo socialmente maior,
e assim seguimos divididos e sem consensos, conseguidos no
Brasil apenas com fisiologismos.
Partindo da lógica da “Arte da Guerra”, o poder vigente
sempre dividirá para conquistar, daí temos o arranjo institucional
adequado dos partidos/divididos políticos. Se buscássemos o
“inteiro” político em favor da sociedade e dos cidadãos,
regulando e controlando os poderes constituídos, os bens
públicos seriam melhores distribuídos e a corrupção, intrínseca
ao poder, diminuiria.
Até que discutamos pautas comuns da nossa vida em
sociedade, seguimos com a divisão perfeita entre “direita” e
“esquerda” advinda da eleição de 2022, no rico debate entre
fazer a arma ou fazer o “L”.
Para facilitar a leitura use o celulr na hotizontal
foto1
Janio
Quadros;
foto2
Carlos
Lacerda;
foto
3
Getulio
Vargas
foto
4 Ademar de Barros