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A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHERUm artigo do Me. Dr. Kalil Antônio Salotti Tawasha - Ilustrações: Mulher Chorando (de Pablo Picasso e O grito de Edward Munch)Jaboticabal, 29 de dezembro de 2022Os maus tratos contra as mulheres, independente de suas idades, ocasionam importante impacto psicólogico, social e cultural na vida dessa pessoa, independente de sua forma, sendo ela física, sexual e/ou emocional. Acarreta inúmeras consequências, aumentando o potencial de risco para uma sucessão de transtornos psiquiátricos ao longo da vida, como também um comprometimento da estabilidade afetiva, relações interpessoais, cognição e bem-estar físico. De acordo com a organização Mundial de Saúde e Organização Pan-Americana de Saúde, a violência contra as mulheres, devido sua magnitude do número de vítimas e as sequelas emocionais decorrentes desses atos, adquiriu caráter endêmico e refere-se como um sério problema de saúde pública em vários países.Os episódios de violência de gênero e maus tratos, por ser tratada como um problema de saúde pública vêm recebendo atenção especial nas últimas décadas no Brasil, tornando-se um importante tema a ser debatido nas áreas acadêmicas e nos serviços em saúde, tanto devido sua magnitude quanto ao impacto social e econômico nela decorrente. As investigações sobre a vivência de trauma precoce, ou seja, na infância, se faz por esta problemática estar cada vez mais presente e enraizada em nosso cotidiano, acarretando consequências significativas na saúde pública e na saúde do indivíduo ao longo do seu crescimento e desenvolvimento emocional. Ao mesmo tempo em que este tema faz parte da nossa cultura, percebemos que ela, ainda hoje, é vista com olhos sutis devido à complexidade deste fenômeno, uma vez que carecemos de integração intersetorial e interdisciplinar na fomentação de políticas públicas integradas para superação da violência e prevenção dos acidentes.As consequências duradouras apontadas pela literatura documenta psicopatologias específicas devido o acometimento de violência e/ou maus tratos, tanto na infância quanto na vida adulta dessas mulheres, dentre elas estão transtornos de humor como ansiedade e depressão, isolamento, baixa autoestima, problemas com confiança, revitimização, abuso de substâncias psicoativas, desajuste sexual, maiores taxas de suicídio, queixas vagas, cefaleia, distúrbios gastrointestinais, dor pélvica crônica, somatização, transtornos alimentares como bulimia e anorexia, transtornos de personalidade, em especial as boderline e as dissociações, além de inúmeros distúrbios comportamentais e cognitivos. Em relação à saúde reprodutiva de mulheres que foram maltradas e que sofreram violência, estudos indicam associação, além de dor pélvica crônica como pontuado acima, mas também risco considerado de adquirirem doenças sexualmente transmissíveis como a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), além de gravidez indesejada e doenças pélvicas inflamatóriaPorém, mesmo com as altas taxas de prevalência de vitimizações acometida pormaus tratos e ou violência, como a violência de gênero, violência doméstica e feminicídio, ainda nós profissionais da saúde nos deparamentos com uma realidade, que refere-se as altas taxas de subnotificação. A subnotificação atual, no contexto brasileiro, apresenta porcentagens que variam entre 80 – 90% Drezett et al., 2001, ou seja, aproximadamente 10% das vítimas reais de violência sexual notificam à delegacia Saúde, 1999 e demais órgãos responsáveis.Esta informação reflete o despreparo dos profissionais em saúde e da própria sociedade como um todo em lidar com essas questões, reforçando ao mesmo tempo a perpetuação da violência e a atitude de naturalização desses casos. Dessa forma, é possível perceber que o despreparo dos profissionais em saúde advém, ao menos em parte, por precárias ou até mesmo ausências na inclusão deste tema nas grades curriculares dos cursos superiores de todo país. Fatores como insensibilidade e a precária capacitação desses profissionais, tendência à medicalização dos casos de vitimização, ausência na articulação entre os distintos setores governamentais e sociais sobre essa temática específica, tornam o problema ainda mais complexo e de difícil abordagem. Por outro lado, o contato empático em ambiente apropriado e respaldado pela confidencialidade, pode despertar nessas pacientes a segurança de se expressarem e se sentirem à vontade para discutir essas e outras questões pertinentes, possibilitando uma intervenção eficaz e planejada pela equipe médica e demais profissionais envolvidos no contexto hospitalar e de saúde.****Me. Dr. Kalil Antônio Salotti TawashaCRP:06/99924Mestre em Ciências da Saúde pela FMRP - USPEspecializando em Saúde Mental e Cognição pela UFSCAR