Cronica e arte
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A MORTE DA CANTORA MARILIA MENDONÇA
Mentore Conti Mtb 0080415 SP // fotos internet
reprodução
Jaboticabal, 9 de novembro de 2021
Nestes últimos dias,
mais precisamente, da
sexta-feira a tarde, até
esta segunda-feira à
tarde, a imprensa
transformou a tragédia
da morte em um
acidente aéreo, da
artista e cantora,
Marília Mendonça,
numa exploração sem ética e que visava, ao menos é o
que se entende de uma análise mais apurada, apenas
agradar os seguidores da cantora, e ganhar com espaço
publicitário no mínimo.
Claro que a cantora Marília Mendonça tinha o seu espaço
na música sertaneja. Mas mesmo tendo seu espaço, não
somos eu e você leitor, pessoas sem cultura como alguns
repórteres que chegaram a falar que ela, como mulher, foi
uma inovação na música sertaneja.
Nesse ponto se fizéssemos isto estariamos esquecendo o
trabalho de Inhana da dupla Cascatinha e Inhana, com
sua carreira na década de 1942 a 1981, estaríamos
esquecendo Inezita
Barroso iniciou sua
carreira em 1950,
atuando até sua morte
em 2015, estaríamos
esquecendo também as
cantoras Irmãs Galvão,
que atuaram de 1947 a
2021 e que pararam a
carreira artística por
causa de um Alzheimer
que acometeu Marilene,
uma das irmãs.
Devemos lembrar aqui
também, uma artista que antecedeu a cantora Marilia
Mendonça, ou seja, a sua amiga Roberta Miranda e a
cantora Sula Miranda.
Mesmo assim a cantora Marília Mendonça tinha seu
espaço, contudo uma coisa é noticiar a morte de uma
cantora amada pelo público, e outra coisa é falar dela
porque existe audiência. Afinal de contas, o que estamos
vendo já ultrapassou os limites da ética, e as televisões e
rádios parecem falar do acidente como se fosse um fato a
explorar para gerar espaço publicitário.
É verdade que uma pessoa quando morre passa a ser
alvo de elogios e nesse ponto lembremos Machado de
Assis, quando no conto “O Empréstimo” narrando a morte
de um cartorário, em determinado trecho do texto diz"
está morto podemos elogiar à vontade".
Se pararmos para refletir sobre as notícias da morte de
Marilia Mendonça, vamos ver que fizeram até agora uma
porção de elogios fáceis, sem sequer analisar
profundamente a obra da cantora. Como se o
apresentador estivesse de olho no número da sua
audiência e mantivesse o assunto no ar porque a audiência
está em um nível comercial muito bom.
Será que este período de pandemia, criou em nossa
imprensa uma insensibilidade pelo sofrimento?
Afinal de contas do modo como estão tratando assunto
estão transformando a morte de uma jovem cantora, uma
verdadeira tragédia, em um espetáculo comercial onde
cada emissora ganha o seu quinhão.
Talvez não seja de hoje e nem somente no Brasil, que a
televisão tem este papel, de massificar a cultura e criar a
partir da cultura um produto enlatado e de venda, ainda
que se trate de uma tragédia com um artista.
Na Itália da década de 1970 Pier Paolo Pasolini, (poeta,
escritor e cineasta) falava que a massificação da cultura, e
a transformação da cultura em um produto de venda era o
que se Poderia chamar de neofascismo, (assim ele
denominava, uma vez que o fascismo foi um regime
político, criado a partir da mídia de seu tempo.
O fascismo, para se incutir como ideologia dominante em
vinte anos de poder, de 1921 a 1943, trabalhou com
propaganda na mídia que tinha na época mural rádio
cinema e teatro.
Ao analisarmos o que falava para Pasolini e verificarmos o
que estão fazendo com a morte de Marília Mendonça, é
lamentável ver a que ponto está chegando a mídia no
Brasil, ou seja, a um ponto onde a massificação esquece
por completo o ser humano.
Não há respeito ao luto, a
dignidade e até a própria
tragédia que abateu-se sobre
a artista. A sua morte está
sendo tratada como se fosse
uma história em quadrinhos,
um folhetim a ser vendido
com espaço publicitário no
meio.
Se nós relembrarmos outros artistas que faleceram, antes
da Marília Mendonça, vamos ver que as famílias de muitos
deles, dispensou até a presença do público em velório
exatamente para que a mídia não tratasse a memória do
falecido, como se fosse uma simples mercadoria, a ser
vendida com textos e entrevistas, muitas vezes sem
qualidade nenhuma.
Não será estranho que em mais dois ou quatro dias a
tragédia de Marília Mendonça, esteja esquecida e jogada
em qualquer arquivo de emissoras de televisão rádio ou
sites e os repórteres, apresentadores e jornalistas estejam
a falar de uma tragédia mais recente. Este tipo de
comportamento é lamentável, simplesmente lamentável.
Expresso aqui meus sentimentos pela tragédia, mas a
música que mais espelha esta questão dos elogios fáceis à
Marilia Mendonça, é a música de Nelson Cavaquinho
(1911-1986) (no YouTube cantada por Nelson Gonsalves)
Quando Eu me Chamar Saudade.
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